Por Líllian Régis
Casar com um homem que coleciona
HQs é uma maravilha! Se você, como eu, gostar de gibis (desde criança), vai ter
sempre histórias para compartilhar, spoilers para contar, porque a trama é tão
boa que você não se contém, além de poder ler o mesmo Quadrinho juntos, que é
uma coisa muito prazerosa na vida a dois. (Acredite, esse é um dos melhores
hábitos que um casal pode ter!) Mas o que isso tem a ver com MAUS? Você já vai
descobrir.
300 páginas que você não vai
conseguir parar de ler! Foi assim minha experiência com a HQ de Art Spielgeman.
Contada a partir da perspectiva de Vladek, pai do autor, em preto e branco e
com um desenho simples, MAUS nos apresenta as memórias de um judeu sobrevivente
ao Holocausto. Na tentativa de reconstituir a história de sua família, Art
entrevista seu pai, um personagem ranzinza e sovina que, quase ao final da
leitura, encheu meus olhos de lágrimas. Art não tenta maquiar a imagem do pai e
o relato, em minha opinião, funciona como uma espécie de diário em que o
escritor revela as dificuldades de convivência entre os dois.
Em MAUS – termo que significa
rato em alemão, os judeus são representados como ratos, (a propaganda nazista
utilizou esse animal para comparar os judeus a pragas que espalhavam doenças),
os alemães são gatos e os americanos são cães. A escolha desses animais não foi
à toa. Talvez Art estivesse pensando na ideia de que “cão caça gato, que caça
rato, que tenta escapar como pode das presas do felino”. É exatamente isso que acontece na HQ. E foi
isso, também, que aconteceu na História com os americanos (ingleses, soviéticos
e franceses) derrotando os alemães e o fim da Segunda Guerra. Sabendo disso,
você lerá a HQ de outro “lugar”.
Mas MAUS não é só metáfora! É uma
história profundamente humana ao apresentar nossa bondade e compaixão em cenas
de tirar o fôlego e deixar nosso coração em suspense. Também coloca nosso senso
de sobrevivência e valores em xeque ao mostrar traições de ratos para com
ratos. Em meio a tudo isso, ainda é possível rir com MAUS. E chorar com a história
de amor de Vladek e Anja. E é aqui que eu explico o que a história tem a ver
comigo (e com você, talvez). Durante a leitura, me perguntei várias vezes: “E
se fosse comigo e Joelson, será que eu teria tanta coragem? Será que eu teria
feito a mesma coisa?”
Art Spielgeman |
O amor do casal Spielgeman fica
registrado nas cenas em que Vladek se apaixona por Anja “porque depois de falar
com ela, você começa a amar mais e mais”, em que ele deixa de comer (mesmo
definhando) para a esposa comer e em cada tentativa desesperada de encontrar o
outro (sim, eles ficam em campos de concentração diferentes num dado momento).
Um tipo de amor que me lembrou do amor de Cristo – sofredor e abnegado,
incansável em procurar o bem do ser amado, invencível. E me fez pensar em meu
amor por meu marido. Talvez nenhum de nós passe por provação semelhante à de
Anja e Vladek. Queira Deus que o
Holocausto jamais se repita! Mas, certamente, a vida vai se encarregar de
provar o nosso amor. Quem sabe será uma doença (temporária ou crônica), uma
crise financeira, um acidente que tirará a beleza do nosso rosto... Em tudo isso, a Escritura do Deus amoroso e
sábio continuará nos dizendo:
“O amor é
sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade,
não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses,
não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a
verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13. 4-7).
MAUS é um retrato da nossa
humanidade caída, de nossas misérias e maldades elevadas a um ponto nunca antes
imaginado. Mas é, também, o registro da bondade e misericórdia que os homens
herdaram do Deus que os criou. Uma história de amor incrível que vale cada
quadrinho lido!
Se você já leu, não deixe de
comentar! Se ainda não leu, ficou com vontade? Compartilha sua opinião com a
gente! Até a próxima!
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FICHA TÉCNICA:
Autor: Art Spielgeman
Ano de publicação: 2009 (25ª
reimpressão)
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 296
Onde comprar: Amazon
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