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quarta-feira, 3 de julho de 2019

A ESSÊNCIA DA DIVINA TEOLOGIA (William Ames), cap. I


O PRIMEIRO LIVRO DE TEOLOGIA

Trad. Joelson Gomes


Capítulo I
A definição ou natureza da Teologia


1-        A Teologia é a doutrina de viver para Deus. As palavras da vida eterna (Jo 6.68). As palavras desta vida (At 5.20). Considerai-vos (...) vivos para Deus (Rm 6.11).
2-        Chama-se doutrina, não porque o nome de inteligência, ciência, sabedoria, arte ou prudência não pertença a ela; pois todos estes estão em toda disciplina exata, e especialmente em Teologia; mas é chamada de doutrina porque esta disciplina não é da natureza nem de invenção humana (como as outras são), mas da revelação e instituição divinas. De mim sairá a lei (Is 51.4). Do céu (...); Então, por que não acreditastes nele? (Mt 21. 25). Sabemos que Deus falou a Moisés (Jo 9.29). O evangelho (...) não é de segundo o homem, porque eu não o recebi (...) de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo (Gl 1. 11-12). E João 6. 45.[1]
3-        Os princípios fundamentais das outras artes sendo inatos em nós podem ser polidos e levados à perfeição através dos sentidos, observação, experiência e indução. Todavia, os sólidos princípios da Teologia, ainda que possam ser levados à maturidade pelo estudo e diligência, contudo, não são inatos a nossa natureza: não foi carne e sangue que to revelaram (...) (Mt 16.17).
4-        Mas vendo que toda arte consiste em regras pelas quais alguma ação da criatura é dirigida, e vendo que a vida é a mais nobre de todas as ações, ela (isto é, a Teologia) não pode ser adequadamente relacionada acerca de outra coisa senão sobre a vida.
5-        E vendo que o melhor tipo de vida para um ser humano é aquela que se aproxima do Deus vivo e vivificador, então a natureza da vida da Teologia é viver para Deus.
6-        Os homens vivem para Deus quando vivem de acordo com a vontade de dele, para a glória dele, e com ele trabalhando neles internamente. Para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus (...) vivam no espírito segundo Deus (1Pe 4. 2, 6). A fim de viver para Deus (...). Cristo vive em mim (...) (Gl 2.19-20). Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo (2Co 4.10). Será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte (Fp 1. 20).
7-        Esta vida, em essência, permanece uma e a mesma desde o começo até a eternidade. Aquele que crer no Filho tem a vida eterna (Jo 3. 36; 5. 24). Tem a vida eterna permanente nele (1Jo 3. 15).
8-        Mas, embora essa vida envolva viver feliz e viver bem, εύζωία (euzôía), viver bem é mais do que εύδαιμονία (eudaimonía), viver feliz; e o principal que deve ser buscado não é a bem-aventurança, que diz respeito a nosso prazer, mas a bondade, que se refere à glória de Deus. Portanto, a Teologia se define melhor por aquela boa vida pela qual vivemos para Deus, do que por uma vida abençoada pela qual vivemos para nós mesmos – como por uma Sinédoque[2] o Apóstolo a chama de doutrina que é segundo a piedade (1Tm 6. 3, RC).[3]
9-        Além disso, vendo que esta vida é um trabalho espiritual de todo o homem, por meio do qual ele é levado a desfrutar de Deus, e a atuar de acordo com a Sua vontade - e vendo que é manifesto que essas coisas são convenientes à vontade - segue-se que o assunto principal e apropriado da Teologia é a vontade. Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida. (Pv 4. 23). Dá-me, filho meu, o teu coração (...) (Pv 23. 26).
10-    Mas vendo que esta vida e vontade são verdadeira e propriamente nossa prática mais perfeita, é manifesto em si mesmo que a Teologia é uma disciplina prática, e não uma disciplina especulativa – não só como todas as disciplinas que têm sua ευπραξια (eupraxia), boa prática, como fim, mas é prática de uma maneira particular e especial, acima de todas as outras.
11-    Também não há nada na Teologia que não se refira a este fim último, ou aos meios que se relacionam com este fim, todos os quais se referem diretamente à prática.
12-    Esta prática da vida é tão perfeitamente contida na Teologia, que não há nenhum preceito universalmente verdadeiro relativo a viver bem, contido nas disciplinas do governo familiar, moralidade, governo político, ou no fazer leis, que não pertença propriamente à Teologia.
13-    Portanto, de todas as Artes, a Teologia é a suprema, a mais nobre e a obra-prima, procedendo de maneira especial de Deus, tratando de Deus e assuntos divinos, e tendendo e conduzindo o homem a Deus; a este respeito, talvez não seja sem jeito chamá-la de θιωζια (thiôzia), um viver para Deus, ou θευργια (theurgia), um trabalho para Deus, assim como θεολογια (theologia), falar sobre Deus.


[1]  João 6. 45 - Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim.
[2] Sinédoque é uma figura de linguagem que se refere ao todo por uma de suas partes. Referir-se a um carro como "rodas" é uma sinédoque.
[3] Edição Revista e Corrigida abreviada assim daqui por diante (n. e.).

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Tradução da obra em andamento

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O ESPÍRITO E A MISSÃO



Por Joelson Gomes
Lição publicada na Revista para a Escola Dominical da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil 

Texto Base: Ez 37. 1-14

Texto áureo: “Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6).

Objetivo da lição: Ao término da lição o aluno deverá entender que a operação do Espírito Santo na missão é imprescindível, bem como refletir sobre como sua igreja faz missões hoje.

A Bíblia na semana
Seg. Is 61. 1-3
Ter. Is 11. 1-5
Qua. At 1. 5-11
Qui. Lc 24. 44-49
Sex. At 4. 23-31
Sáb. Ef 2. 1-10
Dom. Ez 37. 1-14

INTRODUÇÃO

O Espírito Santo é essencial para a missão de Deus ao homem em toda Bíblia, mas incrivelmente é deixado de lado nesse assunto pelos estudiosos. Não é difícil lê-se livros sobre missões, e não se encontrar quase nada sobre o Espírito e a relação com missões na Bíblia toda. Há muito material escrito sobre técnicas missionarias, necessidade de missionários, chamamentos para despertar para missões, mas sobre o poder do Espírito Santo e missões é raríssimo. Procure algo sobre a relação do Espírito Santo e missões no AT, e aí suas chances de achar caem para quase zero, pois o pouco que se tem se prende ao livro de Atos dos Apóstolos, como se o Espírito só operasse em missões depois deste livro.
A missão moderna dá a tenção ao Espírito que a Bíblia dá? Acho que não. Por isso precisamos estudar mais sobre o poder do Espírito de Deus para missões segundo a Bíblia, e olhando toda Bíblia, ao fazermos isso veremos como o Espírito não é mais um elemento na missão, ele é essencial.

I-                   O Espírito Santo da promessa

  a)      A promessa e o Espírito. A própria promessa do Evangelho desde o Gênesis quando Deus chamou Abrão (Gn 12. 1-4) lhe prometeu que através de sua descendência todas as famílias da terra seriam abençoadas   está entrelaçada com o Espírito Santo. Com o desenrolar da história da salvação na ficamos sabendo que esta descendência de Abraão que seria abençoada não era apenas física, mas era primariamente espiritual (Rm 4; Gl 3. 6-22): os filhos da fé. E esta promessa embrionária em Abraão tem sua maturidade no Evangelho, chegando a todos entrelaçada com a promessa do Espírito Santo (Gl 3.14), ao ponto de o Evangelho ser chamado de “evangelho da promessa” (At 13. 32-33). Esta relação tão íntima do Evangelho, o conteúdo da missão, com o Espírito Santo faz Marcos e Pedro proclamarem discursos similares: o evangelho pregado é a chegada dos últimos dias (Mc 1. 14-15); o Espírito derramado é a chegada dos últimos dias (At 2. 14-18). É fato que a missão de Deus aos povos e o Espírito Santo estão em íntima conexão e não os podemos separar (Gl 3. 23-4.6).

   b)       Isaias e a unção para pregar. Em Isaias 61. 1-3 temos uma célebre profecia sobre o tempo do Messias, sabemos disso porque em Lucas 4. 18-19 Jesus retomou este texto e na sinagoga de Nazaré e o aplicou a Si e ao seu ministério. A palavra “ungiu” (hebraico: Mashach), é de onde vem a palavra “messias” (ungido). Assim, Cristo ao dizer que era o “ungido” da profecia de Isaías estava dizendo: “eu sou o Messias” (Hb 1.8-9). Ele era a realização e a encarnação da promessa, pois Paulo havia dito que quando Deus fez a promessa a Abraão, na realidade estava visando Cristo como cumprimento (Gl 3. 16). O fato notável é o que o profeta Isaías liga claramente a proclamação do Messias, com a operação do Espírito. Nas palavras do próprio Cristo está dito que a unção do Espírito Santo sobre Ele era o poder para pregar o Evangelho a todos: “O Espírito está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres...” (Lc 4. 18; veja também At 10. 38). Seu ministério (o Evangelho em Cristo) seria caracterizado pela atuação do Espírito Santo (Mc 1.7-8).


 II-                O Espírito e a Palavra proclamada

  a)      “Profetiza ao Espírito”. Ezequiel 37. 1-14 é um texto emblemático para demonstrar o papel do Espírito Santo na missão. Ezequiel sabia que deveria profetizar aos ossos que estavam secos, sem vida à sua frente. Esse foi o mandato de Deus (Ez 37. 4-6). Ele obedeceu, e a reorganização dos ossos aconteceu, mas continuavam sem vida (Ez 37.8). Vem então, nova ordem do Senhor, agora ele deverá profetizar ao “Espírito”, clamar ao “Espírito” para que dessa vida aos corpos (Ez 37.9). E a palavra “Espírito” aqui deve ser grafada com “E” maiúsculo, pois com certeza se trata do Espírito divino o doador da vida (Jó 33.4; Sl 104. 30). “Mas, evidentemente aqui se fala de “o Espírito de vida”, porque é distinto dos “quatro ventos” de onde o chama” (Roberto Jamieson (et. al). Comentario Exegetico Y Explicativo de la Biblia. Tomo I. AT., p. 920). Então, na sequência da narrativa é só quando o Espírito opera que a palavra proclamada pelo profeta faz o efeito desejado (Ez 37.10). Ora, é muito claro aqui o que Deus quer demonstrar, a pregação da Palavra só seria eficaz debaixo do trabalho do Espírito, só a pregação nada faria para trazer vida.

  b)      Cheios de poder. É no NT que esta relação do Espírito com a mensagem na missão é vista com mais detalhes. O derramamento do Espírito Santo recebido pelos apóstolos (At 1.5, 8; 2.1-4) foi o poder que transformou aqueles homens de medrosos em missionários corajosos. Antes os apóstolos eram pessoas escondidas e temendo pela vida (Jo 20.19), depois foram transformados em pregadores destemidos (At 2.14, 32, 36, 43; 3. 12-16, 26; 4.8, 31-33; 5. 27-32, 41-42; 7.51-56).

A coragem de Pedro no dia de pentecostes, apenas 50 dias após suas medrosas negações de qualquer identificação com Jesus, somente pode ter uma explicação: uma reviravolta no coração do discípulo impetuoso... a explicação só pode ser que o revestimento do Espirito tinha mudado completamente sua preocupação com a autoproteção. Esvaziado de si mesmo, o discípulo ficou como um vaso pronto para ser cheio do Espírito, no dia de Pentecoste (Russel Shedd. Avivamento e Renovação, pp. 26-27).

Em todo trabalho missionário na Igreja do NT notamos como o enchimento do Espirito Santo é indispensável. O grande exemplo para confirmar isso é como Ele dá poder para a missão enchendo os pregadores no Livro de Atos:

 ·         Todos os apóstolos e discípulos (At 1. 5,8; 2.1-4);
 ·         Pedro (At 4.8; 10. 44);
 ·         A Igreja reunida (At 4.31);
 ·         Estevão (At 6. 8; 7.54-58);
 ·         Filipe (At 8. 39-40);
 ·         Paulo (At 9.15-17; 13.6-11);
 ·         Apolo (At 18.24-25).

Não há dúvidas que a eficácia e o porquê da Igreja e dos seus pregadores fazerem missões de forma extraordinária no NT era o poder do Espírito Santo.

III-             O Espírito Santo e a necessidade do homem natural

Sim, é claro que o Espírito é a vida da missão. Mas, você se perguntou o porquê desta necessidade? Porque a Palavra, ou apenas as técnicas para alcançar as pessoas não fazem o trabalho sozinhas? Porque a missão sem o Espírito é nada? 

a)   A morte no pecado. Quando olhamos as Escrituras Sagradas encontramos a respostas para isso.  O problema é que a situação do ser humano natural, que nasce nesse mundo descendente de Adão, não parece nada boa, veja:

  ·      Ele é um ser carnal (Jo 3.6);
  ·      Ele é um ser pecador (Rm 3.23; 5.8);
  ·      Ele é um ser escravo (Jo 8.34);
  ·      Ele é um ser separado de Deus (Is 59. 1-2);
  ·      Ele é um ser inimigo de Deus (Rm 5.10; 8.7-8);
  ·      Ele é um ser cego (2Co 4.4-6);
  ·      Ele é um ser carente da glória de Deus (Rm 3.23);
  ·      Ele é um ser morto espiritualmente (Ez 18.4; Mt 8. 18-22; Ef 2. 1-6; Cl 2.13);
  ·      Ele é um ser Condenado (Ez 18.4; Mc 16. 15-16; Jo 3. 18, 36; Rm 6.23a).

b)   A operação do Espírito que dá vida. O ser humano na situação descrita acima nada pode fazer. Mesmo que escute pregações e mais pregações ele está inerte. É o Espírito Santo quem desvenda os olhos cegos e dá ao ser humano capacidade para crer no Evangelho pregado (1Co 2.14; Rm 10.17), dando-lhe a vida (Ef 2.4-7). E então, pela fé em Cristo, o ser humano passa a ser filho de Deus (Gl 3.26), nasce na família divina (Ef 2. 13-22). Falando disso em seu Evangelho (Jo 1.12-13), João usa o tempo verbal grego chamado aoristo passivo, quando diz que os que creem nasceram de Deus: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Escrevendo assim ele mostra que nessa obra o ser humano é completamente inoperante (Tt 3. 5), e é Deus, pelo Seu Espírito operando com o Evangelho que o regenera (1Pe 1.23), fazendo-o assim uma nova criação. 

E o Espírito convence os homens e as mulheres habilitando-os a crerem... Ninguém pode convencer ninguém a respeito da verdade destas coisas, a não ser o Espírito Santo. Por isso o nosso Senhor disse aos apóstolos... “ficai, porém, na cidade de Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder”. Eles conheciam todos os fatos, tinham sido testemunhas oculares deles. Mas isso não bastava; eles nunca poderiam convencer ninguém enquanto o poder do espírito não estivesse neles. Somente ele pode iluminar e convencer (Martyn Lloyd-Jones. Cristianismo Autêntico. Vl. 2,  pp. 264-265).

Portanto, se a salvação é o receber a vida espiritual de Deus e nascer de novo, só o Espírito da vida pode fazer alguém ter a vida. Daí que sem o poder do Espírito não há missão.

CONCLUSÃO

Chegamos ao final desta lição e também da revista. Foi uma longa estrada, muitos conhecimentos adquiridos, questionamentos também, pois fazem parte de todo aprendizado. Mas, acredito que acima de tudo ficou muito claro como precisamos do Deus Espírito Santo para nos guiar na jornada cristã. Entendemos como necessitamos dEle para tudo o que somos, e também para tudo que fizermos no Reino de Deus. Seus dons são o equipamento de maturidade da Igreja durante todo seu tempo na terra. Seu poder é a energia da igreja para a execução de seu trabalho. Ele é o Espírito de toda vida, Aquele sem o qual não há criação, não há salvação. Cada nascimento natural de todas as criaturas de Deus é um ato do Espírito (Sl 104. 30), cada nascimento espiritual de uma pessoa que enxergou o Evangelho é uma obra Espírito (Jo 3. 5-6; Tt 3. 56). Por isso devemos procurar o poder do Espírito para sermos cristãos no modelo de Deus, no jeito de Deus.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

A CONVERSÃO E O NOVO TESTAMENTO

Thomas Schreiner
Por Thomas Schreiner


Conversão pode ser definida como voltar-se do pecado e voltar-se para Deus. Talvez o versículo clássico que captura essa definição é 1 Tessalonicenses 1.9: “pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro.” Aqui vemos claramente os dois elementos da conversão, voltar-se para Deus e voltar-se dos ídolos.

Conversão no Novo Testamento: da promessa para realidade

A história do triunfo de Deus sobre a serpente prometida no Antigo Testamento (Gn 3.15) torna-se uma realidade no Novo Testamento. O Antigo Testamento promete uma nova aliança, uma nova criação, um novo êxodo e novos corações para o povo de Deus. E nele é inaugurado o cumprimento para todas essas promessas através da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, que é proclamada no Novo Testamento.

Conversão nos Sinóticos

Nos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), a obra salvadora de Deus prometida do Antigo Testamento é englobada pelo termo “reino de Deus”. O reino de Deus exerce um papel central nos sinóticos, mas também devemos entender que o reino de Deus convoca os homens à conversão. Os dois elementos da conversão podem ser descritos em termos de arrependimento e fé. Conforme lemos em Marcos 1.14-15: “foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.” (cf. Mateus 4.17). As boas novas do retorno do exílio anunciado por Isaías, as boas novas do cumprimento das promessas de salvação de Deus serão desfrutadas somente por aqueles que se arrependerem de seus pecados e crerem no evangelho.
O evangelho nos sinóticos está centrado na morte de ressurreição de Jesus, porque a paixão e a ressurreição de Jesus dominam a história em todos os três livros. É o clímax da história! Não há reino sem a cruz. Jesus veio para “salvar seu povo dos seus pecados” (Mateus 1.21) e essa salvação é realizada somente através da sua morte em favor deles, na qual ele deu “sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:28; cf Marcos 10:45). Alguns que falam acerca do reino falam pouco sobre conversão, mas até mesmo uma rápida olhada nos evangelhos sinóticos indica que conversão é fundamental. Ninguém poderá entrar no reino sem ela (cf. Marcos 10.17-31).

Conversão em João

A centralidade da conversão também é evidente no evangelho de João. De fato, João escreveu seu evangelho para que o povo pudesse “crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham vida em seu nome “ (João 20.31). João usa o verbo “crer” 98 vezes no evangelho, ressaltando a importância desse tema em seu evangelho. Crer não é um ato passivo em João. João usa uma variedade de termos para comunicar a profundidade e atividade da fé: crer é como comer, beber, ver, ouvir, habitar, vir, entrar, receber e obedecer. A natureza radical da conversão é expressa através de vários verbos que João usa para descrever o que significa crer que Jesus é o Cristo.  Conversão, então, está no âmago da mensagem do evangelho de João. Vida eterna (vida na era do porvir) pertence somente àqueles que creem em Jesus como o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Em outras palavras, somente aqueles que são convertidos desfrutam vida eterna.

Conversão e o Reino em Atos

Parece claro a partir da discussão acima que conversão exerce um papel central nos evangelhos e podemos traçar a mesma conclusão a partir do livro de Atos. Em Atos, achamos uma variedade de sermões nos quais o evangelho é exposto aos ouvintes (por exemplo, Atos 2.14-41; 3.11-26; 13.16-41). Aqueles que ouviam eram geralmente convocados a arrepender-se (Atos 2.38; 3.19; 8.22; 17.30; 26.20), que também é definido como “voltar-se” para Deus (Atos 3.19; 9.35, 40; 11.21; 14.15; 15.19; 26.18, 20; 28.27) A mensagem do evangelho envolve um chamado urgente para voltar-se contra o pecado e aquela antiga vida. Ao mesmo tempo, aqueles que ouviam as boas novas eram convocados para crer e exercitar fé (Atos 16.31; 26.18) De fato, a palavra “crer” é usada aproximadamente 30 vezes em Atos para descrever cristãos, indicando que fé caracteriza aqueles que pertencem a Cristo.
Não é tão surpreendente que conversão exerça um papel principal em Atos, já que o livro registra o expansão do evangelho de Jerusalém a Roma (Atos 1.8; cf. também 1.6; 14.22). Porém, deve ser também notado que o reino de Deus é um tema principal em Atos. Ele emoldura o livro no começo (Atos 1.3) e no fim (Atos 28.31). Paulo pregou o evangelho em Roma (Atos 20.35; 28.23, 31) e Filipe “que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo” (Atos 8.12), demonstrando que o reino está centrado no evangelho. O evangelho que foi proclamado convocava os ouvintes, como vimos acima, ao arrependimento e à fé. Consequentemente, temos outra parte de evidência que a conversão é fundamental para qualquer proclamação do reino. A restauração do mundo para a regência de Deus é a esperança gloriosa dos crentes, mas somente aqueles que se arrependeram e creram desfrutarão o novo mundo que está porvir. Aqueles que se recusam a acreditar, como Atos enfatiza frequentemente, serão julgados.

Conversão em Paulo

Paulo não usa o termo reino de Deus frequentemente, mas sua cosmovisão escatológica é bem conhecida e está de acordo com o caráter escatológico do reino.  Como os evangelhos, ele proclama uma escatologia “já/ainda não”. A maioria dos eruditos concordariam que fé e arrependimento são temas cruciais nas epístolas paulinas. Paulo comumente ensina que justificação e salvação são obtidas somente pela fé (cf. Romanos 3.21-4.25; 9.30-10.17; 1 Coríntios 15.1-4; Gálatas 2.16-4.7; Efésios 2.8-9; Filipenses 3.2-11). Ele não utiliza a palavra arrependimento tão frequentemente, mas não é completamente ausente (por exemplo, Romanos 2.4; 2 Coríntios 3.16, 1 Tessalonicenses 1.9; 2 Timóteo 2.25). Paulo usa muitos termos para obra da salvação de Deus em Cristo, incluindo salvação, justificação, redenção, reconciliação, adoção, propiciação e assim por diante. É incontestável que a obra de salvação de Deus em Cristo exerce um papel principal na teologia paulina, mas tal salvação é garantida somente para aqueles que creem, para aqueles que são convertidos.
De acordo com Paulo, os crentes esperam ansiosamente pelo retorno de Jesus Cristo e a restauração da criação (Romanos 8.18-25; 1 Tessalonicenses 1.10); e, no entanto, somente aqueles que são convertidos pertencerão à nova criação que está porvir. Consequentemente, Paulo trabalha intensivamente para espalhar o evangelho entre os gentios (Colossenses 1.24-2.5), lutando para trazer o evangelho àqueles que nunca ouviram (Romanos 15.22-29), então eles estarão no grupo dos que são salvos.

Conversão nas epístolas gerais

As cartas restantes do Novo Testamento são escritos ocasionais endereçados a situações específicas. Ainda assim, a importância da conversão é estabelecida ou implícita. Por exemplo, achamos em Hebreus que somente aqueles que creem e obedecem entrarão no descanso do fim dos tempos (Hebreus 3.18-19; 4.3; 11.1-40). Tiago tem sido comumente mal compreendido, mas, quando corretamente interpretado, ele ensina que uma fé contrita é necessária para justificação (Tiago 2.14-26). Assim também, Pedro ensina que a salvação é pela fé (1 Pedro 1.5; 2 Pedro 1.1) e 1 João foi escrito para assegurar aos crentes que possuem vida eterna (1 João 5.13).

Conversão em Apocalipse

O livro do Apocalipse culmina a história, assegurando crentes que o reino de Deus, que já veio em Jesus Cristo, será consumado. Aqueles que praticam mal e se comprometem com a Besta serão julgados para sempre, mas aqueles que perseverarem até o fim entrarão na cidade celestial, que é a nova Jerusalém. Apocalipse ressalta que somente aqueles que se arrependerem ( Apocalipse 2.5, 16, 21, 22; 3.3, 19; 9.20-21; 16.9, 11) encontrarão vida.

Não o tema central, mas fundamental para a história completa

Para resumir, conversão certamente não é o tema central das Escritruras. Crentes foram feitos para glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre, e nós faremos isso tanto neste mundo quanto no mundo porvir.
Mas conversão é fundacional e fundamental para a história, visto que somente aqueles que são convertidos desfrutarão a nova criação. Seres humanos devem voltar-se do pecado e voltar-se para Deus para serem salvos. Eles devem arrepender-se dos seus pecados e crer no evangelho de Jesus Cristo, crucificado e ressurreto. Será pouco consolador no último dia se alguém tiver contribuído de uma pequena forma ou mesmo uma forma significativa para a melhoria desse mundo (tão útil quanto seja), se não for convertido.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

AS SANDICES DE JOHN MACARTHUR

Por Silas Daniel
Como prometido, segue abaixo algumas reflexões sobe declarações do pastor John MacArthur ao site do The Christian Post, nos EUA, no domingo, 20 de outubro. Os trechos traduzidos da matéria com MacArthur vêm em itálico e minhas observações em texto normal.

 

Para aqueles que disseram que MacArthur está atacando seus irmãos em Cristo, MacArthur respondeu que ele “desejava que pudesse afirmar isso [chamá-los de irmãos]”. [Mas,] Em sua opinião, como ele e seus colegas oradores observaram durante a conferência, o movimento carismático é feito, em grande parte, por “não-cristãos”.

Eu, sinceramente, não me importo se John MacArthur escreve e prega o cessacionismo. E daí? Problema dele. Ele tem todo o direito de fazê-lo. E obviamente também nem me importo de ele fazer uma conferência para defender, entre outras coisas, o cessacionismo. E daí? A igreja dele é pastoreada por ele e ela apóia fielmente o seu líder. Aliás, todos os anos MacArthur faz conferências em sua igreja e o templo desta, com capacidade para 3 mil pessoas, sempre enche, não só de visitantes, mas principalmente com o seu próprio povo, como prova de apoio ao seu líder. Neste ano, não foi diferente.


Os três únicos problemas são que MacArthur fez questão de desafiar publicamente pentecostais tratando-os como hereges; distorceu o próprio ensino pentecostal para asseverar a questão entre continuísmo e cessacionismo como uma doutrina primária, essencial, de suma importância para a saúde da fé de qualquer cristão, e não como uma doutrina secundária; e ainda colocou, no mesmo saco, pentecostais clássicos e neopentecostais. Aí não dá. As críticas que MacArthur sofreu por essa conferência foram justamente relacionadas a esses radicalismos e injustiça.


Em primeiro lugar, pentecostais clássicos têm a Bíblia como a sua única regra de fé e prática, e justamente por isso pregam constantemente contra “novas revelações” que se chocam com a Bíblia ou querem acrescentar algo a ela.


E em segundo lugar, pentecostais clássicos também pregam contra a Teologia da Prosperidade, contra a Confissão Positiva, contra o “cair no Espírito”, contra a “unção do riso” etc, que são desvios neopentecostais.


Como se não bastasse isso, ainda temos que ouvir MacArthur afirmar que acredita que a maioria dos cristãos no mundo que dizem crer na contemporaneidade dos dons espirituais é, na verdade, de “não-cristãos”.

 

“Se a questão [da continuidade ou não dos dons espirituais] não é clara – como alguns estão dizendo –, ela só se tornou clara sob a influência dos falsos mestres? Ficou clara para os apóstolos; ficou clara para os Pais da Igreja Primitiva; ficou clara para os reformadores; ficou clara para os puritanos; ficou clara nos credos, como a Confissão de Westminster; ficou clara para os teólogos reformados como B. B. Warfield; ficou clara para Spurgeon; ficou clara, nos tempos mais modernos, a R. C. Sproul. Terá agora se tornado clara por causa de Aimee Semple McPherson, Jimmy Swaggart, Jim Bakker e Kenneth Copeland? Essa é uma idéia ridícula”.



Não, MacArthur, a não descontinuidade dos dons espirituais se tornou clara para nós pelos próprios apóstolos, pela própria Bíblia Sagrada, a única regra de fé e prática para qualquer crente genuinamente pentecostal. Não há nenhum texto bíblico que diga que os dons espirituais não são mais para os nossos dias.

E a questão ficou clara também para Pais da Igreja e grandes nomes da Igreja dos primeiros séculos como Justino Mártir (100-165), Irineu (115-202), Teófilo de Antioquia (120-186), Tertuliano (160-220), Novaciano (200-258), Gregório Taumaturgo (213-270) e Hilário de Poitiers (300-368), mas, infelizmente, foi renegada pela maioria dos Pais da Igreja do terceiro século em diante como reação aos desvios Montanistas.


Apesar disso, há registros de contemporaneidade dos dons espirituais durante a Alta Idade Média e, depois, entre os valdenses, nos séculos 12 a 15, e com os anabatistas, no século 16; entre os quacres e pietistas, no século 17; na França, entre os Camisardes, chamados de “calvinistas das cavernas”, no século 18; na Finlândia, também no século 18, durante o avivamento que impactou os luteranos naquele país e que ficou conhecido como “Heränneet”; além de entre os Morávios, na República Tcheca, na mesma época. Nos séculos 18 e 19, há ainda registros na Inglaterra, Rússia, Estados Unidos, Indonésia, Escócia, Austrália, Brasil (sim, entre batistas no Rio Grande do Sul, 30 anos antes da chegada de Gunnar Vingren e Daniel Berg), Armênia, Alemanha, África e Noruega, dentre outros países.


A contemporaneidade de todos os dons espirituais, inclusive a glossolalia, foi clara para John Wesley (1703-1791), que a defendeu em carta ao pastor Conyers Middleton (The Works of John Wesley, A Letter to the Rev. Dr. Conyers Middleton, volume 10, pp. 54 a 56). Essa carta pode ser lida clicando AQUI.


A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre batista inglês F. B. Meyer (1847-1929), sobre o qual o cessacionista Spurgeon disse certa vez: “Ele prega como um homem que viu Deus face a face”.


Ela foi clara para o reverendo R. B. Swan, sua esposa e alguns membros de sua igreja em Providence, Rhode Island, EUA, em 1875, que receberam todos, segundo depoimento do próprio Rev. Swan, a glossolalia. E o que dizer dos relatos e/ou experiências próprias de glossolalia registrados nos séculos 18 e 19 por Thomas Walsh, William Doughty, William Arthur, Horace Bushnell, V. P. Simmons, J. C. Aroolappen e tantos outros?


Em 1801, há 212 anos, nos Estados Unidos, na localidade de Cane Ridge, Kentucky, cerca de 3 mil pessoas, em um acampamento da Igreja Presbiteriana, entraram no que descreveram como “estado de júbilo”, com “centenas” delas “falando em línguas sobrenaturalmente” (Dicionário do Movimento Pentecostal, CPAD, 2007, p. 235).


A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre evangelista congregacional Dwight Lyman Moody (1837-1899), contemporâneo de Spurgeon e que foi, segundo historiadores, o homem que mais ganhou vidas para Jesus no século 19.


Ela foi clara também para o célebre pregador calvinista congregacional David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) (Leia AQUI excelente artigo de John Piper a respeito). E nos dias de hoje, a contemporaneidade dos dons espirituais é aceita por calvinistas como Wayne Grudem, J. I. Packer, John Piper, Craig Keener, D. A. Carson, Mark Driscoll, C. J. Mahaney, Tim Keller, Sam Storms, Matt Chandler, Vincent Cheung, James MacDonald, Matt Slick, James K. A. Smith, Johanes Lilik Susanto e Paul Walsher, só para citar os conhecidos. Porém, MacArthur ignora essa gente toda e cita ele e R. C. Sproul como referência sobre o assunto, como que querendo dizer que a teologia dele e de Sproul está acima da de todos estes outros colegas calvinistas. Com todo respeito que possamos ter por MacArthur e Sproul como ensinadores (eu mesmo gosto de muitos textos de Sproul), eles não são melhores teólogos do que muitos daqueles que acabei de mencionar.


E para piorar, MacArthur, ao final de sua fala, cita nomes do pentecostalismo que pregavam heresias ou que caíram em pecado, quando deveria lembrar de pentecostais como Stanley Horton, Anthony D. Palma, William Menzies, David Wilkerson, Roger Stronstad, Myer Pearlman, George Wood etc etc etc, todos seus compatriotas. Já imaginou se cometo o mesmo pecado de tomar todos os reformados por nomes dentre eles que os constrangem justamente por não representarem a maioria dos reformados ou o que pensa os reformados, seja pelo seu ensino ou comportamento? Não seria correto, seria? Seria profundamente desonesto, na verdade.

 

Outra acusação foi que MacArthur e os cessacionistas estão falando de algo que só é verdade para extremistas, lunáticos do movimento, e ele afirma que “obviamente não é verdade”, porque acredita que há erro no movimento carismático que varre todo o movimento. “Noventa por cento das pessoas em todo o mundo ligadas ao movimento carismático apropriam-se do evangelho da prosperidade”, disse ele. “24 a 25 milhões deles negam a trindade, 100 milhões deles são católicos romanos. Esta não é uma franja. Este é o movimento, e está crescendo a uma taxa rápida”, acrescentou.



Se juntarmos todos os católicos carismáticos, os unitaristas e os carismáticos e neopentecostais adeptos da Teologia da Prosperidade ou de outras heresias em todo o mundo, eles provavelmente não chegam sequer a 30% dos mais de 800 milhões de pentecostais no planeta. Colocar todos eles no mesmo saco é de uma irresponsabilidade e insensibilidade enormes. Nas igrejas pentecostais europeias, por exemplo, quase inexiste a Teologia da Prosperidade. E mesmo nos EUA, Brasil e África, onde a Teologia da Prosperidade é forte, há muitos pentecostais que pregam e ensinam contra ela, inclusive a maior denominação pentecostal do nosso país. 

 

“Se os líderes reformados que conhecem a verdade, o Evangelho e a Palavra de Deus não policiarem o movimento, os terroristas espirituais vão dominar”, disse ele.



A moda agora é chamar todo divergente de “terrorista”. Vide Obama, que chamou os parlamentares republicanos mês passado de “homens bomba”, “terroristas” e “incendiários”.
MacArthur já chamou carismáticos de “não-cristãos” e “terroristas”. O que falta agora? “Doentes mentais”? “Demoníacos”?

 

“O movimento carismático tem aberto mais amplamente a porta para o erro teológico do que qualquer outra aberração doutrinária nos dias de hoje”, acrescentou MacArthur, observando que no capítulo 12 de seu livro ele escreveu uma carta aberta a seus amigos continuístas.



O neopentecostalismo é que tem aberto. E mais uma vez ele coloca os males do mundo evangélico na conta dos continuístas de forma geral. É de uma desonestidade enorme. Será que ele não leu nenhum livro da profusão de livros apologéticos pentecostais nos EUA e no mundo combatendo os erros do neopentecostalismo?

 

“Se os dons praticados na igreja carismática de hoje são equivalentes aos descritos no Novo Testamento, então esses dons originais não tinham nada de especial”, disse ele, acrescentando que estes “degradam os verdadeiros dons que Deus deu à igreja do primeiro século”.

Ele acrescentou que o movimento “desonra o Espírito Santo, atraindo pessoas com falsificações, e faz as pessoas pensarem que elas não têm o que precisam, e que há algo lá fora que precisam perseguir”.



Esse foi o argumento mais tíbio de todos. Os dons só seriam extraordinários se ficassem circunscritos à Era Apostólica?

Quanto a eventuais falsificações, MacArthur esquece que falsas e distorcidas manifestações de dons espirituais ocorreram até nos tempos apostólicos, vide, só para citar um exemplo, as orientações de Paulo aos crentes em Corinto sobre desvios nessa área ali.

O que devemos fazer não é negar os dons porque há gente que os perverte, mas orientar em favor das manifestações sadias. Como diz um velho e sábio provérbio latino, Abusus non tollit usum – “O abuso não tolhe o uso”.


Não se joga o bebê fora junto com a água suja da bacia. Não se toma a maioria pela minoria. Não se deve transformar exceção em regra e regra em exceção. Regra é regra, exceção é exceção.


Quanto às declarações de que a contemporaneidade dos dons espirituais “desonra o Espírito Santo” e “faz as pessoas pensarem que elas não têm o que precisam, e que há algo lá fora que precisam perseguir”, trata-se de uma tremenda distorção das coisas:

1) Quem aceitou Jesus como Senhor e Salvador tem tudo o que precisa em termos de Salvação, mas isso não significa que os dons espirituais, que acompanham a Salvação, que são acessórios dela, não são importantes. Os dons (inclusive os espirituais) não são essenciais para a salvação, mas eles são importantes, porque foram dados à Igreja para a sua edificação, para o enriquecimento da vida cristã.


2) Desprezar os dons espirituais é que é negativo, pois é apagar uma ação específica do Espírito Santo em nossas vidas a qual tem por objetivo enriquecer ainda mais o nosso serviço a Deus e à Sua Igreja (1Ts 5.19-21).


3) A Bíblia nos orienta a buscarmos, a perseguirmos, “os melhores dons”, e inclusive menciona o de profecia como um destes melhores (1Co 14.1).

 

MacArthur também apontou para aqueles que são continuístas, auxiliando o problema, porque eles querem dar lugar para o movimento carismático e “não estão ajudando a resolver os problemas de falsa doutrina”.



Pois é, para MacArthur, gente como Wayde Grudem, J. I. Packer, John Piper e o falecido D. Martyn Lloyd-Jones seriam calvinistas que atrapalham, dando oportunidade à expansão da falsa doutrina. E como ele já disse que a maioria dos crentes continuístas é de “não-cristãos”, logo o próximo passo deve ser o Céu só para os cessacionistas. Não sei se ele vai chegar a tanto, mas ele já beira a isso em alguns momentos ao afirmar que seu cessacionismo não é uma questão secundária, mas de suma importância para toda a fé cristã.

Que pena. Em uma época em que os cristãos sérios deveriam se unir para combater males reais e comuns no meio evangélico, alguns deles dirigem seus ataques para o foco errado.
NÃO PARE AQUI VÁ PARA OS TEXTOS MAIS ANTIGOS.