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terça-feira, 7 de julho de 2009

A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO DE KARL BARTH, UMA LEITURA.

BARTH, Karl. A Proclamação do Evangelho. São Paulo: Novo Século, 2001.

Karl Barth
Karl Barth foi um dos maiores teólogos do mundo, levando-se em conta as tradições Ortodoxa, Católica Romana e Protestante. Considerado um renovador da Teologia evangélica, ele com a publicação em 1919 de célebre Der Römerbref (um comentário a carta de Paulo aos Romanos), deu novos caminhos ao saber teológico e protagonizou o sistema que o tem como ícone principal: a Neo-ordoxia ou Teologia Dialética. Ele já foi o teólogo protestante mais admirado por cerca de três décadas[1]
Nascido na Basiléia, Suíça, em 1886, Barth morreu nesta mesma cidade em 10 de Dezembro de 1968. Pertencia a Igreja Reformada da qual foi pastor por 12 anos, e manteve uma vida acadêmica como professor em universidades por 40 anos.
[2] De uma vasta produção teológica, na qual se sobressai a sua Dogmática Eclesiástica, Barth deu os rumos da Teologia de sua época.,
A Proclamação do Evangelho é um opúsculo dirigido originalmente para pastores e composto de uma introdução feita pelo autor em 1961; um artigo intitulado “O Falso Profeta”, onde ele afirma que o falso profeta é o pastor que tenta agradar a todos em sua pregação tentando disfarçar a realidade. Não se deve confundir isso com a atitude do pregador que tenta saber o que a sua congregação precisa ouvir, pois para Barth o pastor deve procurar “escutar’ o coração do seu povo (p.47); e mais três capítulos.
1- Em “Definições Fundamentais da Pregação” Barth afirma que a pregação é a palavra de Deus pronunciada por ele mesmo. Ela é fruto da ordem dada à igreja de servir à Palavra de Deus. Por isso a pregação é em si: A Palavra de Deus e a palavra humana.
O discurso da pregação é livre, pessoal. Não é nenhuma exegese. O pregador diz a palavra que ouve no texto da Escritura, tal como ele mesmo a recebe. Isto porque na pregação Deus se faz ouvir; é Ele quem faz e não o homem. Este último só anuncia que Deus vai dizer alguma coisa (p.16). Isso é estranho, pois Barth recomenda o trabalho exegético na página 40, e muito rigor no estudo da preparação do sermão.
2- Na segunda parte que tem por título “Caracteres Essenciais da Pregação”, Barth afirma que a pregação deve confirmar-se à revelação. O papel da pregação não consiste em revelar a Deus ou em servir-lhe de mediador. Deve respeitar o fato de que o próprio Deus tem se revelado (p.17).
Aqui ele faz uma afirmação estranha, a de que a pregação não deve pretender ser a transmissão da verdade acerca de Deus (17). Ora, se a pregação não pretende ser a verdade, qual a sua utilidade? E porque tanto rigor e imparcialidade com o texto bíblico?Barth também diz que não temos, tampouco, que expor a verdade divina sob uma forma estética por meio de imagens inúteis ou apresentando Jesus Cristo por meio de efusões sentimentais.
A pregação deve conformar-se à revelação (p.20). Tem um ponto de partida único, a saber, Deus tem-se revelado. Assim é necessário dizer também que ela tem igualmente um ponto único de chegada, o cumprimento da revelação, da redenção que vem ao nosso encontro (p.21)
Para Barth o lugar da pregação é a igreja, isto porque ela está ligada à existência e à missão da igreja. É assim porque na igreja, onde ressoa a Palavra da reconciliação, todas as outras relações aparecem como manchadas de impureza, contaminadas, submergidas na esfera da queda e, como tais, condenadas. Quando é conforme ao que Deus tem nos revelado, a pregação cria a reconciliação. Só porque ressoa esta chamada e porque os homens podem escutá-la é que existe uma igreja. Assim, o caráter eclesiástico da pregação deriva-se imediatamente de sua conformidade com revelação Porque não se pode saber o que é a pregação, sem sabermos o que é sacramento (pp.24-25). Barth faz uma afirmação eu diria perigosa na página 25, quando diz que “só há pregação, no sentido exato do termo, ali onde o sacramento a acompanha e a esclarece”. Fazendo assim a pregação depender do sacramento, quando o contrário é que deve acontecer, a pregação é quem esclarece a ordenança. E ele entende assim, pois inexplicavelmente, na mesma página faz a seguinte observação: “A pregação é o comentário, a interpretação do sacramento; tendo o mesmo sentido que este, porém, em palavras” (p.25).
Barth dá muito valor ao sacramento, para ele o batismo confirma o pertencer de um homem à igreja, e se o batismo caracteriza o acontecimento que está no ponto de partida, a ceia é, por sua vez, o sinal do mesmo acontecimento. Tanto valor é dado ao sacramento por Barth que ele chega a dizer que os Católicos Romanos têm muito a ensinar aos Protestantes em tal assunto (p.27).
Na ótica de Barth, a Igreja não é uma instituição destinada a manter o mundo no caminho reto, daí que a pregação para Barth devia ser essencialmente doutrinária. (p.30), e deve também fidelidade apostólica, o que para Barth seria o pregador ter consciência das debilidades inerentes a sua ação (p. 35). E isso faz a pregação ter um caráter provisório, pois é uma ação humana e manchada pelo pecado, e os nossos meios humanos sempre serão insuficientes (p 37).
Voltando ao aspecto da pregação que é sua fidelidade as Escrituras, Barth ainda afirma que a mesma consiste em uma explicação das Escrituras, e deve se ater só as mesmas. Para o teólogo de Basiléia, explicar as Escrituras seria repeti-las (p. 40), mas isso não sem um sério trabalho exegético, o que para o nosso autor deveria fazer o pregador ter em conta até as línguas originais, pois é ali que o mesmo deve ler seu texto. E sendo fiel as Escrituras, o pregador não deve se considerar um iluminado cheio de idéias pré-concebidas (p.43), deve beber só do texto e ser original, sendo sua palavra a de um homem de hoje, palavra cuja responsabilidade ele assume (p.44), sem imitações.
Esta pregação deve adaptar-se a comunidade, porque o pregador é um corpo com ela e está no seu nível. Deve ter tato sabendo o que deve dizer a cada pessoa da comunidade para a qual prega (pp.46-47).
3- Na terceira a última parte que leva o titulo: “A Preparação da Pregação”. A escolha do texto é colocada como algo de muita importância pelo autor, por isso não se deve escolher arbitrariamente, ou segundo os desejos do pregador. Também se deve evitar textos demasiadamente curtos, os fáceis e as alegorias. O pregador não deve fazer da pregação um discurso utilitário, nem ser temático, pois, quando a pregação é temática quem domina são os gostos do pregador e não o texto (pp.49-51).
Para preparar a pregação deve-se dar a máxima prioridade ao texto, observar seu contexto, suas idéias; o pregador deve fazer uma análise geral. É necessária uma atualização do texto, mas nem sempre (p.56).
Nas páginas. 56-61 Barth dá três exemplos de esquemas de sermões expositivos, muito simples por sinal, para depois dizer que a pregação dever ser escrita palavra por palavra dada a sua importância. (pp.64-65).
Quanto a se a pregação dever ter ou não introdução, Barth diz que não é necessário, pois elas mais despistam do que ajudam (p.66). E para os que advogam que a introdução atrai a atenção do ouvinte para Palavra, o autor diz que quem conhece a teologia dos reformadores sabe que quem atrai é Deus e mais nada (p. 67). Coisa que está mais de acordo com as Escrituras do que muitos livros de Homilética de certos reformados. Assim, deve o pregador ir de verso em verso expondo os mesmos a medida de sua importância, e nem sempre deve ter uma conclusão, mas o pregador deve parar quando o texto parar (p.68).
A Proclamação do Evangelho de Karl de Barth tem seu valor o tocante ao alto conceito e apego que o mesmo tem para com as Escrituras, coisa que os livros da matéria devia se preocupar mais, mas quanto ao seu apego demasiado aos sacramentos quase os colocando acima da Palavra, e o seu rigor quanto a imparcialidade do pregador frente ao texto levando o mesmo a escrever seu sermão palavra a palavra, tornando a espontaneidade algo a ser condenado (p. 65), o livro deixa a desejar. Não é preciso tamanho engessamento para se pregar um sermão. Acho que quanto a ciência da pregação e seu conceito reformado, existem no mercado outras obras mais úteis como: Pregação e Pregadores do Dr. Martyn Lloyd-Jones, ou O Perfil do Pregador de John Stott, ou A Importância da Pregação Expositiva para o Crescimento da Igreja, de Hernandes Dias Lopes. Quanto A Proclamação do Evangelho vale a leitura a título de conhecimento e pelo grande teólogo que Karl Barth foi.


NOTAS
______________
[1] MONDIN, Batista. Os Grandes Teólogos do Século XX, vl 2 (São Paulo: Paulinas, 1987), p. 13.
[2] Ibid, p. 22. Para detalhes sobre a vida e obra de Karl Barth veja: FERREIRA, Fraklin. Karl Barth: uma introdução à sua carreira (FIDES REFORMATA, VIII. N° 1, (2003): 29-62.

2 comentários:

Marcelo Batista Dias disse...

É de se estranhar esse cuidado de Barth pelas Escrituras e sua defesa da exegese, quando em alguns de seus demais escritos ele afirma que as Escrituras não são a revelação de Deus, mas se tornam revelação no que ele chama de Evento Cristo.

Seu texto é excelente. Bastante elucidativo e pra quem ainda não leu a obra, a impressão é de que acabou de lê-la.

Um abraço,
Deus continue te abençoando.
Parabéns pelo blog.
Qndo puder visite o meu será um honra ter sua presença por lá.
www.eclesiareformanda.blogspot.com

ISRAEL disse...

Olá Pr. Joelson,

Não conhecia este homem de Deus, Karl Barth. Fiquei feliz em saber da excelência com que Deus o abençoou. Artigos como estes são muito úteis para socializar a leigos, um pouco da históri de vida de grandes conhecedores da bíblia. Só uma pergunta. Os leitores deste artigo não atentam muito para o objeto manuseado por Barth e, que acho eu, passa despercebido aos olhos menos atentos?

NÃO PARE AQUI VÁ PARA OS TEXTOS MAIS ANTIGOS.