BARTH, Karl. A Proclamação do Evangelho. São Paulo: Novo Século, 2001.
Karl Barth foi um dos maiores teólogos do mundo, levando-se em conta as tradições Ortodoxa, Católica Romana e Protestante. Considerado um renovador da Teologia evangélica, ele com a publicação em 1919 de célebre Der Römerbref (um comentário a carta de Paulo aos Romanos), deu novos caminhos ao saber teológico e protagonizou o sistema que o tem como ícone principal: a Neo-ordoxia ou Teologia Dialética. Ele já foi o teólogo protestante mais admirado por cerca de três décadas[1]
Nascido na Basiléia, Suíça, em 1886, Barth morreu nesta mesma cidade em 10 de Dezembro de 1968. Pertencia a Igreja Reformada da qual foi pastor por 12 anos, e manteve uma vida acadêmica como professor em universidades por 40 anos.[2] De uma vasta produção teológica, na qual se sobressai a sua Dogmática Eclesiástica, Barth deu os rumos da Teologia de sua época.,
A Proclamação do Evangelho é um opúsculo dirigido originalmente para pastores e composto de uma introdução feita pelo autor em 1961; um artigo intitulado “O Falso Profeta”, onde ele afirma que o falso profeta é o pastor que tenta agradar a todos em sua pregação tentando disfarçar a realidade. Não se deve confundir isso com a atitude do pregador que tenta saber o que a sua congregação precisa ouvir, pois para Barth o pastor deve procurar “escutar’ o coração do seu povo (p.47); e mais três capítulos.
1- Em “Definições Fundamentais da Pregação” Barth afirma que a pregação é a palavra de Deus pronunciada por ele mesmo. Ela é fruto da ordem dada à igreja de servir à Palavra de Deus. Por isso a pregação é em si: A Palavra de Deus e a palavra humana.
O discurso da pregação é livre, pessoal. Não é nenhuma exegese. O pregador diz a palavra que ouve no texto da Escritura, tal como ele mesmo a recebe. Isto porque na pregação Deus se faz ouvir; é Ele quem faz e não o homem. Este último só anuncia que Deus vai dizer alguma coisa (p.16). Isso é estranho, pois Barth recomenda o trabalho exegético na página 40, e muito rigor no estudo da preparação do sermão.
2- Na segunda parte que tem por título “Caracteres Essenciais da Pregação”, Barth afirma que a pregação deve confirmar-se à revelação. O papel da pregação não consiste em revelar a Deus ou em servir-lhe de mediador. Deve respeitar o fato de que o próprio Deus tem se revelado (p.17).
Aqui ele faz uma afirmação estranha, a de que a pregação não deve pretender ser a transmissão da verdade acerca de Deus (17). Ora, se a pregação não pretende ser a verdade, qual a sua utilidade? E porque tanto rigor e imparcialidade com o texto bíblico?Barth também diz que não temos, tampouco, que expor a verdade divina sob uma forma estética por meio de imagens inúteis ou apresentando Jesus Cristo por meio de efusões sentimentais.
A pregação deve conformar-se à revelação (p.20). Tem um ponto de partida único, a saber, Deus tem-se revelado. Assim é necessário dizer também que ela tem igualmente um ponto único de chegada, o cumprimento da revelação, da redenção que vem ao nosso encontro (p.21)
Para Barth o lugar da pregação é a igreja, isto porque ela está ligada à existência e à missão da igreja. É assim porque na igreja, onde ressoa a Palavra da reconciliação, todas as outras relações aparecem como manchadas de impureza, contaminadas, submergidas na esfera da queda e, como tais, condenadas. Quando é conforme ao que Deus tem nos revelado, a pregação cria a reconciliação. Só porque ressoa esta chamada e porque os homens podem escutá-la é que existe uma igreja. Assim, o caráter eclesiástico da pregação deriva-se imediatamente de sua conformidade com revelação Porque não se pode saber o que é a pregação, sem sabermos o que é sacramento (pp.24-25). Barth faz uma afirmação eu diria perigosa na página 25, quando diz que “só há pregação, no sentido exato do termo, ali onde o sacramento a acompanha e a esclarece”. Fazendo assim a pregação depender do sacramento, quando o contrário é que deve acontecer, a pregação é quem esclarece a ordenança. E ele entende assim, pois inexplicavelmente, na mesma página faz a seguinte observação: “A pregação é o comentário, a interpretação do sacramento; tendo o mesmo sentido que este, porém, em palavras” (p.25).
Barth dá muito valor ao sacramento, para ele o batismo confirma o pertencer de um homem à igreja, e se o batismo caracteriza o acontecimento que está no ponto de partida, a ceia é, por sua vez, o sinal do mesmo acontecimento. Tanto valor é dado ao sacramento por Barth que ele chega a dizer que os Católicos Romanos têm muito a ensinar aos Protestantes em tal assunto (p.27).
Na ótica de Barth, a Igreja não é uma instituição destinada a manter o mundo no caminho reto, daí que a pregação para Barth devia ser essencialmente doutrinária. (p.30), e deve também fidelidade apostólica, o que para Barth seria o pregador ter consciência das debilidades inerentes a sua ação (p. 35). E isso faz a pregação ter um caráter provisório, pois é uma ação humana e manchada pelo pecado, e os nossos meios humanos sempre serão insuficientes (p 37).
Voltando ao aspecto da pregação que é sua fidelidade as Escrituras, Barth ainda afirma que a mesma consiste em uma explicação das Escrituras, e deve se ater só as mesmas. Para o teólogo de Basiléia, explicar as Escrituras seria repeti-las (p. 40), mas isso não sem um sério trabalho exegético, o que para o nosso autor deveria fazer o pregador ter em conta até as línguas originais, pois é ali que o mesmo deve ler seu texto. E sendo fiel as Escrituras, o pregador não deve se considerar um iluminado cheio de idéias pré-concebidas (p.43), deve beber só do texto e ser original, sendo sua palavra a de um homem de hoje, palavra cuja responsabilidade ele assume (p.44), sem imitações.
Esta pregação deve adaptar-se a comunidade, porque o pregador é um corpo com ela e está no seu nível. Deve ter tato sabendo o que deve dizer a cada pessoa da comunidade para a qual prega (pp.46-47).
3- Na terceira a última parte que leva o titulo: “A Preparação da Pregação”. A escolha do texto é colocada como algo de muita importância pelo autor, por isso não se deve escolher arbitrariamente, ou segundo os desejos do pregador. Também se deve evitar textos demasiadamente curtos, os fáceis e as alegorias. O pregador não deve fazer da pregação um discurso utilitário, nem ser temático, pois, quando a pregação é temática quem domina são os gostos do pregador e não o texto (pp.49-51).
Para preparar a pregação deve-se dar a máxima prioridade ao texto, observar seu contexto, suas idéias; o pregador deve fazer uma análise geral. É necessária uma atualização do texto, mas nem sempre (p.56).
Nas páginas. 56-61 Barth dá três exemplos de esquemas de sermões expositivos, muito simples por sinal, para depois dizer que a pregação dever ser escrita palavra por palavra dada a sua importância. (pp.64-65).
Quanto a se a pregação dever ter ou não introdução, Barth diz que não é necessário, pois elas mais despistam do que ajudam (p.66). E para os que advogam que a introdução atrai a atenção do ouvinte para Palavra, o autor diz que quem conhece a teologia dos reformadores sabe que quem atrai é Deus e mais nada (p. 67). Coisa que está mais de acordo com as Escrituras do que muitos livros de Homilética de certos reformados. Assim, deve o pregador ir de verso em verso expondo os mesmos a medida de sua importância, e nem sempre deve ter uma conclusão, mas o pregador deve parar quando o texto parar (p.68).
A Proclamação do Evangelho de Karl de Barth tem seu valor o tocante ao alto conceito e apego que o mesmo tem para com as Escrituras, coisa que os livros da matéria devia se preocupar mais, mas quanto ao seu apego demasiado aos sacramentos quase os colocando acima da Palavra, e o seu rigor quanto a imparcialidade do pregador frente ao texto levando o mesmo a escrever seu sermão palavra a palavra, tornando a espontaneidade algo a ser condenado (p. 65), o livro deixa a desejar. Não é preciso tamanho engessamento para se pregar um sermão. Acho que quanto a ciência da pregação e seu conceito reformado, existem no mercado outras obras mais úteis como: Pregação e Pregadores do Dr. Martyn Lloyd-Jones, ou O Perfil do Pregador de John Stott, ou A Importância da Pregação Expositiva para o Crescimento da Igreja, de Hernandes Dias Lopes. Quanto A Proclamação do Evangelho vale a leitura a título de conhecimento e pelo grande teólogo que Karl Barth foi.
NOTAS
Nascido na Basiléia, Suíça, em 1886, Barth morreu nesta mesma cidade em 10 de Dezembro de 1968. Pertencia a Igreja Reformada da qual foi pastor por 12 anos, e manteve uma vida acadêmica como professor em universidades por 40 anos.[2] De uma vasta produção teológica, na qual se sobressai a sua Dogmática Eclesiástica, Barth deu os rumos da Teologia de sua época.,
A Proclamação do Evangelho é um opúsculo dirigido originalmente para pastores e composto de uma introdução feita pelo autor em 1961; um artigo intitulado “O Falso Profeta”, onde ele afirma que o falso profeta é o pastor que tenta agradar a todos em sua pregação tentando disfarçar a realidade. Não se deve confundir isso com a atitude do pregador que tenta saber o que a sua congregação precisa ouvir, pois para Barth o pastor deve procurar “escutar’ o coração do seu povo (p.47); e mais três capítulos.
1- Em “Definições Fundamentais da Pregação” Barth afirma que a pregação é a palavra de Deus pronunciada por ele mesmo. Ela é fruto da ordem dada à igreja de servir à Palavra de Deus. Por isso a pregação é em si: A Palavra de Deus e a palavra humana.
O discurso da pregação é livre, pessoal. Não é nenhuma exegese. O pregador diz a palavra que ouve no texto da Escritura, tal como ele mesmo a recebe. Isto porque na pregação Deus se faz ouvir; é Ele quem faz e não o homem. Este último só anuncia que Deus vai dizer alguma coisa (p.16). Isso é estranho, pois Barth recomenda o trabalho exegético na página 40, e muito rigor no estudo da preparação do sermão.
2- Na segunda parte que tem por título “Caracteres Essenciais da Pregação”, Barth afirma que a pregação deve confirmar-se à revelação. O papel da pregação não consiste em revelar a Deus ou em servir-lhe de mediador. Deve respeitar o fato de que o próprio Deus tem se revelado (p.17).
Aqui ele faz uma afirmação estranha, a de que a pregação não deve pretender ser a transmissão da verdade acerca de Deus (17). Ora, se a pregação não pretende ser a verdade, qual a sua utilidade? E porque tanto rigor e imparcialidade com o texto bíblico?Barth também diz que não temos, tampouco, que expor a verdade divina sob uma forma estética por meio de imagens inúteis ou apresentando Jesus Cristo por meio de efusões sentimentais.
A pregação deve conformar-se à revelação (p.20). Tem um ponto de partida único, a saber, Deus tem-se revelado. Assim é necessário dizer também que ela tem igualmente um ponto único de chegada, o cumprimento da revelação, da redenção que vem ao nosso encontro (p.21)
Para Barth o lugar da pregação é a igreja, isto porque ela está ligada à existência e à missão da igreja. É assim porque na igreja, onde ressoa a Palavra da reconciliação, todas as outras relações aparecem como manchadas de impureza, contaminadas, submergidas na esfera da queda e, como tais, condenadas. Quando é conforme ao que Deus tem nos revelado, a pregação cria a reconciliação. Só porque ressoa esta chamada e porque os homens podem escutá-la é que existe uma igreja. Assim, o caráter eclesiástico da pregação deriva-se imediatamente de sua conformidade com revelação Porque não se pode saber o que é a pregação, sem sabermos o que é sacramento (pp.24-25). Barth faz uma afirmação eu diria perigosa na página 25, quando diz que “só há pregação, no sentido exato do termo, ali onde o sacramento a acompanha e a esclarece”. Fazendo assim a pregação depender do sacramento, quando o contrário é que deve acontecer, a pregação é quem esclarece a ordenança. E ele entende assim, pois inexplicavelmente, na mesma página faz a seguinte observação: “A pregação é o comentário, a interpretação do sacramento; tendo o mesmo sentido que este, porém, em palavras” (p.25).
Barth dá muito valor ao sacramento, para ele o batismo confirma o pertencer de um homem à igreja, e se o batismo caracteriza o acontecimento que está no ponto de partida, a ceia é, por sua vez, o sinal do mesmo acontecimento. Tanto valor é dado ao sacramento por Barth que ele chega a dizer que os Católicos Romanos têm muito a ensinar aos Protestantes em tal assunto (p.27).
Na ótica de Barth, a Igreja não é uma instituição destinada a manter o mundo no caminho reto, daí que a pregação para Barth devia ser essencialmente doutrinária. (p.30), e deve também fidelidade apostólica, o que para Barth seria o pregador ter consciência das debilidades inerentes a sua ação (p. 35). E isso faz a pregação ter um caráter provisório, pois é uma ação humana e manchada pelo pecado, e os nossos meios humanos sempre serão insuficientes (p 37).
Voltando ao aspecto da pregação que é sua fidelidade as Escrituras, Barth ainda afirma que a mesma consiste em uma explicação das Escrituras, e deve se ater só as mesmas. Para o teólogo de Basiléia, explicar as Escrituras seria repeti-las (p. 40), mas isso não sem um sério trabalho exegético, o que para o nosso autor deveria fazer o pregador ter em conta até as línguas originais, pois é ali que o mesmo deve ler seu texto. E sendo fiel as Escrituras, o pregador não deve se considerar um iluminado cheio de idéias pré-concebidas (p.43), deve beber só do texto e ser original, sendo sua palavra a de um homem de hoje, palavra cuja responsabilidade ele assume (p.44), sem imitações.
Esta pregação deve adaptar-se a comunidade, porque o pregador é um corpo com ela e está no seu nível. Deve ter tato sabendo o que deve dizer a cada pessoa da comunidade para a qual prega (pp.46-47).
3- Na terceira a última parte que leva o titulo: “A Preparação da Pregação”. A escolha do texto é colocada como algo de muita importância pelo autor, por isso não se deve escolher arbitrariamente, ou segundo os desejos do pregador. Também se deve evitar textos demasiadamente curtos, os fáceis e as alegorias. O pregador não deve fazer da pregação um discurso utilitário, nem ser temático, pois, quando a pregação é temática quem domina são os gostos do pregador e não o texto (pp.49-51).
Para preparar a pregação deve-se dar a máxima prioridade ao texto, observar seu contexto, suas idéias; o pregador deve fazer uma análise geral. É necessária uma atualização do texto, mas nem sempre (p.56).
Nas páginas. 56-61 Barth dá três exemplos de esquemas de sermões expositivos, muito simples por sinal, para depois dizer que a pregação dever ser escrita palavra por palavra dada a sua importância. (pp.64-65).
Quanto a se a pregação dever ter ou não introdução, Barth diz que não é necessário, pois elas mais despistam do que ajudam (p.66). E para os que advogam que a introdução atrai a atenção do ouvinte para Palavra, o autor diz que quem conhece a teologia dos reformadores sabe que quem atrai é Deus e mais nada (p. 67). Coisa que está mais de acordo com as Escrituras do que muitos livros de Homilética de certos reformados. Assim, deve o pregador ir de verso em verso expondo os mesmos a medida de sua importância, e nem sempre deve ter uma conclusão, mas o pregador deve parar quando o texto parar (p.68).
A Proclamação do Evangelho de Karl de Barth tem seu valor o tocante ao alto conceito e apego que o mesmo tem para com as Escrituras, coisa que os livros da matéria devia se preocupar mais, mas quanto ao seu apego demasiado aos sacramentos quase os colocando acima da Palavra, e o seu rigor quanto a imparcialidade do pregador frente ao texto levando o mesmo a escrever seu sermão palavra a palavra, tornando a espontaneidade algo a ser condenado (p. 65), o livro deixa a desejar. Não é preciso tamanho engessamento para se pregar um sermão. Acho que quanto a ciência da pregação e seu conceito reformado, existem no mercado outras obras mais úteis como: Pregação e Pregadores do Dr. Martyn Lloyd-Jones, ou O Perfil do Pregador de John Stott, ou A Importância da Pregação Expositiva para o Crescimento da Igreja, de Hernandes Dias Lopes. Quanto A Proclamação do Evangelho vale a leitura a título de conhecimento e pelo grande teólogo que Karl Barth foi.
NOTAS
2 comentários:
É de se estranhar esse cuidado de Barth pelas Escrituras e sua defesa da exegese, quando em alguns de seus demais escritos ele afirma que as Escrituras não são a revelação de Deus, mas se tornam revelação no que ele chama de Evento Cristo.
Seu texto é excelente. Bastante elucidativo e pra quem ainda não leu a obra, a impressão é de que acabou de lê-la.
Um abraço,
Deus continue te abençoando.
Parabéns pelo blog.
Qndo puder visite o meu será um honra ter sua presença por lá.
www.eclesiareformanda.blogspot.com
Olá Pr. Joelson,
Não conhecia este homem de Deus, Karl Barth. Fiquei feliz em saber da excelência com que Deus o abençoou. Artigos como estes são muito úteis para socializar a leigos, um pouco da históri de vida de grandes conhecedores da bíblia. Só uma pergunta. Os leitores deste artigo não atentam muito para o objeto manuseado por Barth e, que acho eu, passa despercebido aos olhos menos atentos?
Postar um comentário