“Entre vós não será assim" ( Jesus)
Falar
de autoridade no meio cristão é revelar uma história recheada de atos de abuso
e segregação desde os tempos primitivos da Igreja. Abuso contra quem não
pertenceu a classe “escolhida” ao “sacerdócio”, que não tinha nas mãos o
“poder” de manipular o “mistério” (sacramentos); abuso esse traduzido na
nomenclatura hierarquica criada ao longo dos séculos para essas pessoas (papa, arcebispo, cardeal,
bispo). Abuso e segregação contra o gênero feminino que teve desde cedo sua
participação alijada e vetada aos cargos de liderança na Igreja, criados e
mantidos pelo sexo masculino, escudados em interpretações convenientes de
certas passagens bíblicas.
Notamos
com isso que dentro da estrutura do que se convencionou chamar cristianismo, a
história da autoridade não é diferente das estruturas de poder mundanas. O que
prevalece é a lei do mais forte. Rapidamente os grupos onde as mulheres eram
vistas em lugares de liderança, eram considerados heréticos (montanistas,
cátaros), isso porque a mulher o sexo mais frágil não podia no entendimento de
então assumir posição de autoridade. Autoridade era coisa de fortes, e o homem
é o mais forte. Desde muito cedo a comunidade dos cristãos deixou de ser uma
comunidade de iguais, e passou a ser um lugar de uns sobre os outros. Logo se
abriu um fosso entre o povo e o que passou a se considerar clero. Suas palavras
tinham mais poder que as demais, eles eram os representantes da divindade,
intermediários entre Deus e os homens, e deveriam ser obedecidos cegamente.
Isso sob pena de não se obter a salvação (vinda pela participação do fiél nos
sacramentos que só os detentores do poder manipulavam), mas ir-se para
adanação.
As
Reformas protestantes trouxeram um sopro de liberdade em sua época, mas não
acabaram com este modelo. Nas comunidades cristãs que surgiram terminou-se
repetindo o modelo de autoridade vigente, pois a liderança “ordenada” (termo do
jargão católico romano usado erradamente pelos protestantes) continuou a
mandar. Autoridade continuava a ser entendida como alguém forte que manda e
alguém fraco que obedece.
Quando
olhamos o texto bíblico de Mc.10: 42-45 (par. Mt. 20.25-28) entendemos que o
padrão de Jesus Cristo para autoridade é outro, está diretamente na contramão
do padrão mundano. Para Cristo autoridade é serviço, jamais poder autoritário
sobre o outro. O texto é claro quando mostra Cristo fazendo a oposição entre o
pensamento comum (mundano) e o Seu modelo.
Nas palavras dEle o conceito de autoridade dominadora, hierárquica, tão
cultivado na cristandade em sua história é do mundo, é daqueles que são
considerados governantes “das nações” (Mc. 10.42). Ninguém deveria levantar sua
posição com o objetivo de alcançar liderança sobre os outros. Nenhum homem ou
mulher pode ter o desejo de ter autoridade sobre as pessoas e ainda assim se
conformar às palavras de Jesus. São coisas diametralmente opostas.
A
diferença entre o pensamento mundano e o de Cristo sobre autoridade está no
fato de que, enquanto no mundo a grandeza consiste no número de pessoas que
alguém consegue controlar, mandar; no reino de Cristo autoridade consiste no
número de pessoas que alguém consegue servir. O grande exemplo Ele deu no
contexto anterior aos versos 42-45 onde fala justamente de seu serviço
concretizado com a morte para resgatar pecadores (32-34). O maior exemplo de
autoridade cristã é Ele mesmo, que mostrou isso servindo (45).
Assim,
é sinal de confusão mental achar que autoridade tem quem manda (não sabeis o
que pedis, 38). A ambição por autoridade cega. As pessoas tinham que ver
autoridade na prática de Cristo, seu martírio. Ele era o maior, e se fez o
menor; Ele era sobre todos, e mostrou isso se entregando, morrendo. Ainda hoje se quisermos fazer valer o conceito
de autoridade de Cristo descrito em Mc. 10. 42-45, devemos entender que “os
últimos serão os primeiros”, pois essa é a equação divina.
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