“Você pode ser regenerado, um filho de Deus, um verdadeiro crente e ainda não ter recebido o batismo com o Espírito Santo” (D. Martyn Lloyd-Jones). [1]
Bem, colocados os dois pontos de vistas principais sobre o assunto, resta saber com qual deles os reformados mais se identificam. O que os Puritanos reformados, nossos pais diretos na fé diziam a respeito?
Para alegria de uns e choque de outros quero começar dizendo que os reformados foram os primeiros a ensinar o conceito de Batismo com o Espírito Santo como algo que acontece após a regeneração.
Foram os Puritanos dissidentes da Igreja da Inglaterra no século XVII, e criadores da Igreja Congregacional, que começaram a dar ênfase a este tipo de operação do Espírito Santo na vida do convertido. [2] Este ensinamento do Batismo com o Espírito Santo como uma operação do mesmo após a conversão está ligado a doutrina dos grandes teólogos reformados conhecidos hoje.
John Stott, escrevendo sobre a interpretação de Martyn Lloyd-Jones sobre as expressões: “vocês receberam o Espírito de adoção” e “testemunho do Espírito”, em Rm. 8: 15-16, afirma:
Em consonância com Thomas Goodwin (Congregacional inglês) e outros puritanos, ele acredita que a primeira expressão seria “uma forma ou tipo muito especial de segurança”, uma certeza mais emocional do que intelectual, proporcionada depois da conversão (embora não essencial para a salvação) e que conferiria um profundo sentimento de confiança no amor do nosso Pai. Semelhantemente, ele interpreta o testemunho do Espírito (que ele identifica com o “batismo” e com o “selo” do Espírito) como uma experiência peculiar e transbordante que confere “uma absoluta segurança”.[3]
E Augustus Nicodemus também fala sobre o mesmo assunto:
Ao expor Ef. 1:13, “fostes selados com o Santo Espírito da promessa”, Lloyd-Jones segue a interpretação de alguns teólogos puritanos (Thomas Goodwin, John Owen, Charles Simeon, Richard Sibbes), e do famoso Charles Hodge de Princenton, que defendiam que esse “selo” não é a mesma coisa que a conversão, e pode ocorrer depois. A principal ênfase de Lloyd-Jones em sua exposição da passagem é que esse “selo” é algo que pode ser experimentado sentido e identificado pelos crentes, e que não se trata de algo que já ocorreu automaticamente com todos eles na sua conversão. Como demonstração, ele menciona experiências de personagens famosos na história da igreja, como John Flavel, Jonathan Edwards, D.L. Moody, Christmas Evans, George Whitefield e John Wesley... Lloyd-Jones identifica esse “selar” do Espírito com o “batismo” do Espírito, experimentado pelos apóstolos no dia de Pentecostes, e ainda pelos samaritanos. Cornélio e sua casa, e os discípulos de João Batista em Éfeso.[4]
Eu sei você deve estar se perguntando se esse tipo de ensino é tão antigo assim, porque ninguém lhe avisou? O que será destas publicações que colocam esse ensinamento sobre o Batismo com o Espírito Santo como coisa nova e invenção de Pentecostais? Bem, vamos aos fatos:
Veja como João Calvino entendia o que aconteceu em At. 19: 1-5, no encontro de Paulo com os discípulos em Éfeso. Será que Paulo rebatizou estes irmãos com água? Calvino fala:
Por minha parte, concedo que estes discípulos já haviam sido batizados com o verdadeiro batismo de João, o qual era idêntico ao de Cristo; mas nego que tenham sido batizados de novo por Paulo. O que quer então dizer estas palavras: “foram batizados em nome de Jesus”? Alguns interpretavam isto dizendo que São Paulo somente os instruiu na verdadeira doutrina. Eu prefiro entender de uma maneira mais simples; quer dizer, que ele fala do Batismo do Espírito Santo, e quer dizer que lhes foram concedidas as graças visíveis do Espírito Santo pela imposição das mãos. Estas graças não raras vezes recebem nas Escrituras o nome de batismo.[5]
E deixe mais uma vez Lloyd-Jones lhe responder: “Lembro-lhes que esta doutrina não é nova. Considera-la como tendo se originado neste presente século (XX) indica a medida da ignorância do movimento evangélico moderno. Nós a vimos no ensino dos puritanos do século dezessete”.[6]
As vezes escutamos afirmações dogmatizadoras que os puritanos não defendiam estas idéias, que eram cessacionistas, mas não é verdade. Observe o seguinte.
O Dr. Wayne Grudem pesquisando sobre o assunto nos autores reformados do século XVII, notou que uma série de conclusões de Richard Baxter dava a entender que ele acreditava no dom de profecia, e assim enviou estas citações a J. I. Packer, cuja dissertação de doutorado em Oxford foi sobre Baxter, e perguntou se estava certo pensar assim. Em resposta o Dr. Packer disse: “Sim, você está certo. Esta foi a visão puritana padrão. Eles não eram cessacionista no sentido de Gaffin (Richard)”.[7]
Assim, propalar que os puritanos e reformados em que ser cessacioniatas e não acreditar no Batismo com o Espírito Santo como algo acontecendo após a conversão é faltar com a verdade. Você confirmar isso nos escritos da lavra de puritanos e seguidores desta tradição reformada como: John Preston, Thomas Brooks, Robert Haldane, Charles Spurgeon, além dos já citados.[8]
E agora um testemunho ocular de entre os crentes morávios em 1727:
Lemos no livro de Atos muitos derramamentos do Espírito Santo, como em Samaria, em Éfeso e até mesmo no caso dos gentios. A história da igreja também está repleta de registros de derramamentos especiais do Espírito Santo, e de fato o dia 13 de agosto de 1727 foi um dia de derramamento do Espírito Santo. Vimos a mão de Deus e suas maravilhas, e fomos todos...batizados com o Espírito Santo. O Espírito Santo veio sobre nós e naqueles dias grandes sinais e maravilhas aconteceram em nosso meio. A partir daquele momento dificilmente passava um dia sem que percebêssemos suas operações poderosíssimas entre nós. Uma grande fome da palavra de Deus se apossou de nós, de modo que precisávamos de três cultos por dia...Todos queriam em primeiro lugar, que o Espírito Santo estivesse no controle total. Egoísmo, vontade própria e toda Desobediência desapareceram, e uma torrente avassaladora de graça levou-nos todos para o oceano do Amor divino.[9]
Pois é, esse é o ensino antigo dos reformados. Foi no século XX que este ensino foi esquecido dando origem as interpretações erradas da história que encontramos hoje.[10] Este ensino está totalmente arraigado na tradição reformada, a interpretação de que o Batismo com o Espírito Santo é só o momento da conversão, que são a mesma coisa sempre, é que é uma novidade que apareceu no século XX.[11]
Bem, depois desse passeio histórico conhecendo o posicionamento dos reformados sobre o assunto, é hora de passarmos a Bíblia. Será que este ensino pode ser fundamentado nas Escrituras? Vamos examinar a Palavra de Deus para ver qual argumento tem mais fundamento, o que diz que batismo com o Espírito é apenas a conversão ou o que diz que uma experiência de poder do Espírito Santo após a conversão também pode ser chamada assim.
[1] Citado em BANISTER, Doug. A Igreja da Palavra e do Poder (São Paulo: Vida, 2001), p. 204.
[2] Vd.: PACKER, J.I. Na Dinâmica do Espírito (São Paulo: Vida Nova, 1991), p. 22. “Esses calvinistas, que eventualmente criaram a igreja congregacional, davam muita ênfase a experiência religiosa, especialmente a experiência da conversão”. [MATOS, Alderi Souza de. “Os Avivamentos Norte-americanos”, em Ultimato (ano XXXIII, n°266- Viçosa, MG. Set/Out. 2000), p. 32].
[3] Romanos (São Paulo: ABU, 2000), p. 284.
[4] Cheios do Espírito, pp. 58-59 (Destaque dele).
[5] Institutas (IV. 15. 18). Calvino também defende que os ministérios de Apóstolo, Profeta e Evangelista poderiam voltar em qualquer época depois do período bíblico, se houvesse necessidade (Institutas, IV. 3, 4).
[6] O Supremo Propósito de Deus, p. 271.
[7] Veja detalhes aqui: < http://www.challies.com/interviews/continuationism-and-cessationism-an-interview-with-dr-wayne-grudem> Acesso 12/11/2009
[8] Para este assunto veja: LLOYD-JONES, D. Martyn. Os Filhos de Deus (São Paulo: PES, 2002), pp. 416-424.
[9] Citado em BANISTER, Doug. p. 58 (Grifos meus).
[10] Lloyd-Jones dá uma farta lista de exemplos deste ensino em teólogos reformados
[11] LLOYD-JONES, D. Martyn. O Supremo Propósito de Deus, pp. 259-260.
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