I- “DERRAMARAREI O MEU ESPIRITO”.
O profeta Ezequiel certa vez cantou:
“Não mais esconderei deles o rosto, pois derramarei o meu Espírito sobre a nação de Israel. Palavra do Soberano, o SENHOR” (Ez. 39:29).
E Joel também:
“E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões” (Jl. 2:28).
Estes profetas falam de uma difusão liberal do Espírito que aconteceria num tempo futuro. Difusão que estava bem assentada em bases proféticas para acontecer no futuro, na época da graça. [1]
Nos tempos do Novo Testamento, o povo de Israel, entre as expectativas que mantinha uma era o cumprimento destas palavras. Isto porque desde a época intertestamentária (período entre o último livro do Antigo Testamento, e a vinda de Cristo)[2] os judeus haviam desenvolvido a crença de que o Espírito Santo havia desaparecido da terra depois das mortes dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.
Diz Alain Marchadour:
Com efeito, a tradição judaica guardou a lembrança de que os cento e cinqüenta anos que precederam o Cristo foram marcados pelo silêncio de Deus. Um texto do Talmude (Tosefta, sota XII, 2) afirma que “desde que morreram Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito foi interrompido em Israel e, no entanto, foi-lhes dado ouvir vozes”. O começo que se inaugura com Jesus é o retorno do Espírito.[3]
É nesta ótica que foi escrita a nota de lamento em 1 Macabeus 9:27, livro escrito justamente nesta período intertestamentário:[4] “Israel caiu numa tribulação tão grande, como nunca tinha havido, desde que os profetas desapareceram” (BEP).[5]
A renovação do dom da profecia seria o prelúdio da chegada do Reino de Deus.[6] Então, com a chegada do Cristo (Messias) inaugura-se tempo da volta do Espírito, pois Ele traria o Espírito (Vd. Is. 11:2-3; 42:1; 61:1, cf. Lc. 4:18).. Jesus é as vezes entendido como o profeta anunciado por Moisés (Dt. 18: 15; Jo. 6:14), e vem como o “batizador” com o Espírito Santo (Mt. 3:11).
João nos mostra isso mais claramente, pois em Jo. 1:33 ele usa a expressão grega: “ho baptizôn” (o batizador; aquele que batiza), que é o particípio do verbo batizar, e usado assim tira o verbo dos seus limites de tempo. João assim, nos descreve o ministério característico de Jesus, e usa as mesmas palavras aplicadas a João Batista (Vd. Mc. 1:4; 6:14 = ho baptizôn). O autor mostra com isso que João Batista é chamado de o “batista/batizador”, porque a característica do seu ministério era batizar com água e Jesus é chamado assim também porque a característica do seu ministério era batizar com o Espírito Santo. A vinda do Messias é então o começo de uma nova era na operação do Espírito Santo.[7] O apóstolo Pedro retoma e aplica esta profecia de Joel aos últimos dias, a época da igreja, que seria a comunidade do Espírito (At. 2: 16-21; ver também 1Co. 3: 19; 6:19).
Agora, de que se trata este “Batismo com o Espírito Santo”? Esta expressão é usada em apenas um sentido no Novo Testamento? Tentaremos responder a estas questões a partir de agora.
[1] Veja ainda: Ez. 36: 26, 27; 37:14. Para o assunto veja: Boaventura Kloppemburg, “Jesus Cristo e a Efusão do Espírito Santo” em Revista de Cultura Bíblica, ano 38, V. XX, n° 77/78, nova fase (São Paulo: Loyola, 1996), p. 83.
[2] Para informações sobre este período veja: PAUL, André. O Judaísmo Tardio (São Paulo: Paulinas, 1983); IRONSIDE, H. A. Quatrocentos anos de Silêncio (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1988).
[3] O Espírito Santo na Bíblia (São Paulo: Paulinas, 1988), p. 52. Veja ainda: MCDOWELL, Josh. Evidência que Exige um Veredito, 2ª ed. (São Paulo: Candeia, V1, 1992), p. 40; JEREMIAS, J. Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Paulinas, 1977), p. 127; ROST, L. Introdução aos Livros Apócrifos e Pseudepigrafos do Antigo Testamento e aos Manuscritos de Qunram (São Paulo: Paulinas, 1980), p. 17; GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2000), p. 30; SAÔUT, Yves. Atos dos Apóstolos (São Paulo: Paulinas, 1991), p. 347.
[4] Para a data de 1° Macabeus veja: Tradução Ecumênica da Bíblia (São Paulo: Paulinas/ Loyola, 1995), pp. 1040-1041.
[5] Bíblia Sagrada Edição Pastoral (São Paulo: Paulus, 1999).
[6] RUSSEL, D.S. Desvelamento Divino (São Paulo: Paulus, 1997), p. 89.
[7] STOTT, John. Batismo e Plenitude do Espírito Santo (São Paulo: Vida Nova, 1993), p. 18; GRUDEM, Wayne, p. 533.
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