Tetracampeão mundial em 1994 e há quatro anos auxiliar técnico da seleção brasileira, o ex-jogador Jorge de Amorim Campos, 45 anos, o Jorginho, está cada vez mais tranquilo dentro de campo. Mas em casa... Ele próprio admite que, com os quatro filhos, Laryssa, 20, Vanessa, 18, Daniel, 16, e Isabelly, 8, é bastante rígido. ''Na seleção, Dunga (técnico) é bem mais duro do que eu. Sou mais flexível. Mas, em casa, não sou de ceder. Minhas filhas só podem namorar no quarto se for de porta aberta e não podem se deitar no colo do namorado. Não tem papo, sou caxias nesse ponto, exijo disciplina e respeito'', afirma o ex-jogador, evangélico como toda a família e um declarado pai à moda antiga. ''Não gostaria de vê-los na noite, com bebidas e drogas, e para isso sou o melhor exemplo para meus filhos, dentro e fora de casa'', acrescenta Jorginho.
Ele conta que, quando está no Brasil, faz questão de ir com a mulher e os filhos aos cultos da Igreja Congregacional toda quinta-feira e todo domingo. ''Dou minha palavra, e eles ouvem. É uma alegria ver que eles gostam de participar, até fazem parte do coral (da igreja). Quando é preciso, falo duro, mas batemos muito papo, nunca tive de bater neles, por exemplo. Posso estar errado, mas quem manda em casa sou eu, e eles obedecem'', finaliza.
No dia a dia, Jorginho controla o tempo dos filhos no computador e em frente à televisão e faz questão de ter o ''dia da família''. ''É um dia em que ninguém pode nem ver jogo na TV. E, às vezes, eu preciso assistir, tenho de negociar dizendo que é o trabalho do papai'', brinca. Na sua rotina, tem também o dia só com a mulher, Cristina Campos, 42. ''Quarta-feira é o dia dela. Saímos só nós dois, para ir ao cinema ou jantar. Não tem como negociar para ver jogo de jeito nenhum'', conta aos risos.
Jorginho se descreve com um pai e um marido bastante presente, do tipo que leva os filhos à escola, assiste a desenhos animados e ajuda nas lições de casa. ''Curto muito minha família'', diz ele, confessando que os papéis agora têm se invertido com os filhos, que estão ensinando inglês ao pai. ''Meu alemão é perfeito, mas o inglês é caído.'' Jorginho morou na Alemanha entre 1989 e 1994 e pretende voltar a residir no país após a Copa do Mundo, na África do Sul, que começa em 11 de junho. ''Faz frio pra caramba, mas no período em que morei lá fui muito feliz. Adoraria voltar como treinador. Só que, desta vez, meus filhos já não me acompanhariam por causa dos estudos aqui, só a caçula. Quero retomar a minha carreira de treinador. Só serei auxiliar técnico se for na seleção'', conta ele, que encerrou a carreira de jogador em 2001, depois foi técnico do América, no Rio de Janeiro, em 2006, antes de começar a trabalhar com Dunga.
Rotina de pós-atleta
Todos os dias, Jorginho acorda cedo para levar os filhos à escola, depois vai correr na praia e segue para malhar em uma academia perto de sua casa, na Barra da Tijuca, no Rio. ''Malhar para mim é qualidade de vida. Jogador de futebol é acostumado a comer muito carboidrato a vida inteira e, quando para de jogar, se não continuar treinando, engorda. E ainda tem o risco de o coração não aguentar, pode até ter infarto. Eu continuo adorando comer, às 11 da manhã, já estou morrendo de fome, querendo almoçar. Então, eu tenho de correr para me manter saudável e em forma'', diz ele, que, após o almoço, vai trabalhar na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), também na Barra, onde geralmente passa suas tardes. ''Sou organizado na minha vida, como sou nos jogos'', revela. Jorginho, que completou o ensino médio com um curso supletivo, também tem o sonho de voltar a estudar após o mundial de futebol. ''Penso em fazer faculdade de psicologia, gosto de estudar. E acho que me ajudaria muito como treinador, pois trabalho muito com o psicológico e o emocional dos jogadores, lido com seres humanos'', diz ele, que também é presidente do Instituto Bola Pra Frente e da ONG Atletas de Cristo.
Na seleção de Dunga
Jorginho conheceu Dunga em dezembro de 1982, quando começaram a treinar juntos na seleção de juniores (atual Sub- 20) e venceram o campeonato mundial de 1983. ''Sou completamente diferente do Dunga, mas nos identificamos na objetividade. A gente já brigou muito, hoje somos irmãos, um completa o outro, a gente se entende. Sou duro, mas consigo refletir, conversar mais. Ele é mais sanguíneo, toma decisões firmes, tem convicção de seu trabalho, não volta atrás, não se deixa levar pela cabeça de ninguém. É o jeito dele e tem de ser respeitado'', opina.
Sobre o Mundial, apesar de o Brasil ser o grande favorito para levantar a taça, ele acha que não será fácil chegar à final. ''Claro que estamos focados para isso, mas não será fácil. E hoje não vale só a questão técnica, mas de comportamento. Os jogadores têm de estar comprometidos e não vamos repetir erros'', diz, fazendo referência à Copa da Alemanha, em 2006, quando alguns jogadores se apresentaram com excesso de peso e deixaram a concentração para farras.
E Adriano Leite Ribeiro, 28, o Imperador, será escalado? ''O que posso dizer é que Adriano nunca deu trabalho enquanto estava na seleção. O time só será definido em maio. Se vou ter dor de cabeça em campo em maio, por que vou tomar remédio agora?'', conclui.
Preocupação social
Um dos maiores orgulhos de Jorginho foi ter fundado o Instituto Bola Pra Frente, no bairro onde morou quando criança, no Complexo do Muquiço, em Guadalupe, subúrbio do Rio. ''Aos 11 anos, sonhava em construir a Disney brasileira. Acho que consegui bem mais'', disse sobre a fundação criada há dez anos com o também tetracampeão Bebeto, 46. O lugar atende quase mil crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, com aulas de computação, matemática, português, futebol, entre outras. As crianças ficam ali três horas por dia e para isso devem estar matriculadas na rede municipal. Os professores utilizam a temática do futebol na hora de ensinar. Quando pode, o ex-jogador, presidente do instituto, bate uma bola com os meninos e se diverte. ''Venho, pelo menos, duas vezes por semana.''
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