INTRODUÇÃO:
O ser moral de Deus exige pagamento pelos erros cometidos contra sua santidade, é assim porque a justiça dEle não pode ser ultrajada e não ser satisfeita. As Escrituras são unânimes em afirmar que todos os seres humanos pecaram, erraram o alvo proposto pelo Senhor, e assim são injustos perante Ele (Rm. 3.23). Como subsistir diante de um Deus santo sendo um o homem um miserável pecador? A expiação é a resposta providenciada por Ele mesmo para esta pergunta. Por causa de seu grande amor com que nos amou, Deus resolveu enviar Seu único Filho para receber o castigo e morrer por nossos pecados. Quer aprender mais sobre isso? Então se prepare, está apenas começando.
I-
Expiação; teorias.
Antes de se explicar o que é a expiação vamos conhecer algumas teorias propostas com respeito ao assunto, mas que são defeituosas.
a)
Teoria da influência moral. Esta visão sustenta que o importante foram os efeitos
que a obra da cruz exerceu sobre os homens. A visão de Cristo morrendo nos
comove ao arrependimento e a fé. A expiação se for encarada dessa maneira não
tem efeito algum fora do ser humano, é real apenas na experiência da pessoa.
Não podemos aceitar este tipo de conceito porque, mesmo que o impacto da cruz
seja muito forte, ali Cristo realizou algo mais do que apenas um espetáculo
para ter influencia moral. Ele morreu de fato por nossos pecados e não apenas
como exemplo (Gl. 3.13).
b)
Teoria do resgate. Esta visão afirma que o resgate pago para nos redimir foi direcionado
ao Diabo em cujo reino se encontravam as pessoas devido ao pecado. Não podemos aceitá-la porque a Bíblia não
coloca em nenhum lugar que os pecadores são devedores ao Diabo. Mas, afirmam
que quando se peca o pecado é contra Deus (Sl. 51. 4), e é Ele quem exige o
castigo pelos mesmos. Assim, a expiação oferecida por Cristo foi direcionada a
Deus e a ninguém mais (Rm. 3. 21-26).
c) Teoria do exemplo. Esta visão, semelhante a teoria da influencia moral,
diz que a morte de Cristo simplesmente nos propõe um exemplo de como devemos
confiar em Deus e obedecer-lhe, mesmo que esta confiança e obediência nos levem
a uma morte horrível, como levou Cristo. Não podemos aceitar isso porque não
explica muitas passagens da Escritura que mostram a morte de Jesus um pagamento
pelos pecados (1Co. 6.20; 7.23; 1Pd. 1.18-20). Além domais, esta teoria parece
querer mostrar que o homem pode salvar a si mesmo apenas seguindo o exemplo de
Cristo.
d)
Teoria governamental. Esta visão ensina que Deus não tinha que exigir um
castigo pelo pecado, uma vez que Ele é onipotente poderia deixar de lado essa
exigência e mesmo assim perdoar os pecadores sem o pagamento de uma pena. O sacrifício de Cristo foi apenas para mostrar
que Ele como legislador do universo, quando suas leis são infringidas alguma
pena é exigida. Não podemos aceitar tal pensamento porque nele Cristo não paga
exatamente a pena pelos pecados concretos de alguém, mas apenas sofre para
mostrar que quando as leis de Deus são quebradas alguma pena acontece. É uma
visão falha porque Jesus fez um sacrifício especifico pelos nossos pecados, e
Deus sendo justo não poderia perdoar pecadores em exigir um castigo para os
mesmo (Rm. 3. 21-26).
II-
Expiação; seu significado.
Para
uma explicação mais clara do que seja expiação se faz necessário conhecer
algumas palavras que a Bíblia usa para se referir a mesma.
a)
O Antigo Testamento.
1- כָפַר (kapar).
A forma nominal desta palavra significa “resgatar
oferecendo um substituto”, remover o pecado ou a poluição (Gn. 32. 2-21, aqui
Jacó aplacou a ira de Esaú, veja também outros usos desta palavra em Êx. 21.30;
29. 33-37; Lv. 9.7).
2- פָדָה (pãdã).
Esta palavra significa: resgatar,
redimir, libertar, e está ligada a noção de comprar. Ela descreve o resgate
do povo hebreu da escravidão (Dt. 7.8), e é usada no contexto em que Jônatas é
resgatado das mãos de Saul (1Sm. 14.45).
3- גַאַל (ga’al).
Esta palavra significa: redimir, resgatar,
comprar de volta. A palavra descreve a redenção feita por um parente
chegado, como no caso de Rute que foi redimida por Boaz. O Ga’al é o que redime o membro da família de uma dificuldade ou
perigo. Assim, Deus age como resgatador de seu povo (Jó 19.25; Sl. 19.14), é o
redentor (Sl. 72.4; 103.4).
b) O Novo Testamento. O pano de fundo para a descrição dos sofrimentos e morte de Cristo é
encontrado no ensino sobre a expiação no Antigo Testamento. Os sacrifícios da
Antiga Aliança eram sombras imperfeitas que receberam seu cumprimento no
sacrifício único e perfeito do Filho de Deus. Existe uma palavra que devemos
prestar atenção no Novo Testamento, pois ela nos ajudará a ter o significado
preciso da expiação.
1-
Λντιλυτρον (antilutron). Esta palavra é a junção de
duas expressões gregas que aparecem aqui: “Pois
o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate (lutron) por (anti) muitos” (Mc.
10.45). Como
você deve ter notado antilutron é a
junção de anti (por) e lutron (resgate). É assim que ela
aparece em 1Tm. 2. 6, e seu sentido é que:
“Jesus Cristo, pela sua vida e morte,
libertou o homem de uma obrigação, de um compromisso e de uma divida que, de
outra forma, teria sido forçado a pagar, livrando-o da prisão e da escravidão,
mediante o pagamento do preço de compra da liberdade que ele mesmo (o homem)
nunca poderia ter pago” (William Barclay).
Este
é o sentido de expiação. Porque teve que ser Cristo? Para resolver o problema
do pecado, os sacrifícios expiatórios do Antigo Testamento eram insuficientes e
imperfeitos (Hb. 9), por isso a morte de Jesus se tornou necessária. Ele foi o
substituto adequando (Hb. 9. 11-10.18).
A solução do problema está em que o pecador passa a
ser declarado justo, desde que a penalidade dos pecados seja paga por um substituto
adequado. Desta forma, a expiação é uma manifestação da justiça de Deus (Rm.3.21).
Todos pecaram (Rm. 3.23) e devem pagar o preço do pecado, que é a morte (Rm.
6.23), pois “sem derramamento de sangue, não há remissão dos pecados ( Hb. 9.
22). Assim Deus fez de seu único Filho, Jesus, um sacrifício propiciatório...e
assim, por meio deste sacrifício, sua justiça foi satisfeita (Rm. 3.25) (Franklin
Ferreira e Allan Myatt).
Aqui
está em palavras claras o que é a expiação de Cristo. Ele morreu como resgate
pelos pecados (2Co. 5.18-21).
III-
Expiação; geral ou especifica?
A
pergunta que se faz é a seguinte: Cristo morreu pelo mundo todo (geral) ou sua
morte foi especifica pelos salvos? Existem duas respostas para esta questão.
a)
Expiação geral.
Esta é a visão dos chamados arminianos e da maioria das igrejas modernas, sustenta
que Cristo ao morrer ofereceu um sacrifício pela humanidade toda. Aqueles que
estão perdidos estão assim porque não aceitam a salvação oferecida por Ele. A
morte de Cristo não teria garantido especificamente a salvação das pessoas, mas
aberto uma porta para quem quisesse entrar e ser salvo. A porta está aí, se
você quiser serve para você, senão quiser não serve. Ou seja, se nenhuma pessoa
no mundo aceitasse a Cristo, Sua morte teria sido em vão. Para eles as Escrituras
ensinam que Cristo morreu por “todos”, pelo “mundo” (Is. 53. 6; Jo. 3.16; 1Tm.
2.1-6; Hb. 2.4; 1Jo. 2.1-2), e o evangelho é oferecido a todos, e não para um grupo especifico. Como poderia ser assim se Ele realmente não
tivesse morrido por todos?
·
Antes de aceitar
esta posição devemos perguntar: Cristo ao morrer apenas possibilitou a salvação? Leia Mt. 1.21; Lc. 19.10; 1Tm. 1.15, estas passagens mostram que a
morte de Cristo não apenas abriu a porta da salvação, não só tornou possível, mas
assegurou-a de fato.
b)
Expiação especifica. Esta posição é a dos reformados e pode ser explicada de duas formas:
logicamente e biblicamente.
1-
Logicamente- Se Deus conhece
todas as coisas, não seria lógico Ele mandar Cristo morrer por pessoas que Ele
sabia que não seriam salvas. Isto porque quando a Bíblia fala da obra de
Cristo, mostra que esta obra foi plena e eficaz. A Bíblia diz que Ele se
ofereceu como substituto (Rm. 5.8;1Co. 15.3; Gl. 3.13), a quem Ele substituiu?
Se respondermos “todos”, então todos estão salvos, livres do castigo dos
pecados, pois Cristo já pagou e não pode ser cobrado de novo. Mas como nem
todos estão salvos, temos que admitir que a Sua morte não foi por “todos”.
Assim, explica-se: a morte de Cristo é suficiente para salvar a humanidade toda,
mas ela é eficaz, objetiva apenas para os eleitos.
2-
Biblicamente. Existem muitas passagens bíblicas que afirmam que
Cristo morreu apenas pelo “seu povo”, “pela igreja”, “pelas ovelhas”, “por
muitos”. Não por toda a raça humana.
Consideremos
Is. 53. 8-12 e o propósito da morte do Messias.
·
“por causa da transgressão do meu povo foi ferido” (8);
·
“ele verá o fruto do trabalho penoso de sua
alma, e ficará satisfeito” (11);
·
“por isso eu lhe darei muitos como a sua parte” (12);
·
“levou sobre si os pecados de muitos” (12);
Considere
também Mt. 1.21:
·
“Ele salvará seu povo dos pecados deles”. Quem são estes chamados povo do
Messias? O próprio Messias responde em Jo. 10.11, 14-15, 26. Jesus morreu pelas
suas ovelhas. Se você comparar Hb. 9.28 com Ef. 5.25, verá que os “muitos” são
a “Igreja”, “as ovelhas”.
·
Na mente de Cristo
estava bem claro por quem Ele daria a vida (Jo. 17. 6,9), não teria cabimento
Jesus morrer por todo mundo e pedir apenas pelos escolhidos.
Diante
do que vimos só poderemos chegar a duas conclusões:
1-
Ou a morte de
Cristo teve como objetivo apenas os eleitos de Deus, ou
2-
Cristo não
alcançou seu objetivo, veio morrer para salvar um monte de gente que não vai
ser salva, seu sucesso foi apenas parcial. E assim, os planos de Deus em dar a
vida de Seu Filho para todos serem salvos foram frustrados, pois sabemos que
nem todos se salvarão.
Mas, glória a Deus que não foi assim. O
propósito da expiação era a Sua Igreja, os eleitos, e ele foi concretizado. A
obra de Cristo foi objetiva e concreta, Cristo com sua morte assegura a
salvação de todos por quem morreu, comprando-os, resgatando-os (Cl. 1.21-22;
Hb. 9. 12; 1Pd. 1.18-20; Ap. 5.9-10).
CONCLUSÃO
A
morte de Cristo não apenas possibilitou a salvação, mas de fato salvou, comprou
pecadores mortos para lhes dar a vida eterna. Nesse ato vemos o grande amor de
Deus que é Aquele que exige a expiação e Ele mesmo é quem a provê para seus
escolhidos. A cruz não retrata um Deus cruel matando seu Filho, mas retrata um
Deus amoroso que estava em
Seu Filho sofrendo pelos nossos pecados (At. 20.28; 2Co. 5.
18-20). Sim, Deus estava lá, porque Ele ama, e ama muito.
Na
expiação temos confiança de que todos nossos pecados são deveras perdoados;
temos certeza de que somos salvos porque não devemos nada mais a justiça de
Deus; podemos pregar que todos os pecados, não importando quais sejam, podem
ser perdoados através da expiação de Cristo. Somos confortados porque não
precisamos ter medo da ira de Deus, pois pela morte de Cristo temos livre
acesso a Ele (Hb. 10. 19-22).
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