Por Richard Beck
Primeiro, Jesus aparece para escolher Judas como um dos doze sabendo que Judas o trairia:
João 6.68-71:
“Respondeu-lhe
Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida
eterna. E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus. Respondeu-lhes Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? Contudo um de vós é o diabo. Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era ele o que o havia de entregar, sendo um dos doze.”
Segundo,
na noite de sua traição Jesus orquestra os eventos da traição. Ele dá a
Judas as suas instruções e então vai se encontrar com ele no lugar
determinado:
João 13.26-30; 18.1-4
“Respondeu
Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tendo, pois,
molhado um bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E,
logo após o bocado, entrou nele Satanás. Disse-lhe, pois, Jesus: O que
fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam à mesa percebeu a que
propósito lhe disse isto; pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam
alguns que Jesus lhe queria dizer: Compra o que nos é necessário para a
festa; ou, que desse alguma coisa aos pobres. Então ele, tendo recebido o
bocado saiu logo. E era noite.”
Quando
tinha acabado de orar, Jesus saiu com seus discípulos e cruzou o vale do
Cédron. Do outro lado havia um olival, e ele e seus discípulos entraram
nele.
Agora
Judas, quem o traiu, conhecia o lugar, pois Jesus tinha frequentemente
se encontrado lá com seus discípulos. Então Judas veio ao bosque,
guiando um destacamento de soldados e alguns oficiais dos principais
sacerdotes e fariseus. Eles estavam carregando tochas, lanternas e
armas.
Jesus, conhecendo tudo o que estava para acontecer com ele, saiu e perguntou-lhes: “A quem buscais?”.
Parece, a
partir da descrição de João, que Jesus não sabia o que estava para
acontecer muito antes que acontecesse. Jesus escolhe Judas sabendo que
ele tinha selecionado seu traidor. E, na noite da traição, Jesus deixa
Judas ir e fazer o que ele tinha que fazer e então encontra Judas no
local apontado. Judas parece não ter noção do que está acontecendo.
Jesus, porém, “sabe tudo o que estava para acontecer com ele.”
Algumas questões desconfortáveis
Em
nenhum momento nas narrativas do evangelho é dado a Judas alguma
simpatia por suas ações. Apesar de toda a profecia e orquestração de
Jesus Judas é redondamente
condenado e amaldiçoado. Porém, eu imagino que os leitores modernos
estejam perturbados pela história de Judas. Os antigos tendiam a crer no
destino, mesmo o destino trágico. “Livre arbítrio” e “responsabilidade
moral” não eram coisas com as quais os antigos se preocupavam ou
reconheciam. A vida de Judas seguiu o caminho do seu maldito destino,
tragicamente assim. Mas Judas era “livre para fazer o contrário?” Se
não, ele pode ser mantido responsável por suas ações? Estas questões
simplesmente saltam para fora das descrições do evangelho.
E Jesus?
De todas as personagens envolvidas Jesus parece controlar seu próprio
destino. Ademais, Jesus parece controlar os destinos dos outros, o de
Judas em particular. Então isto nos faz perguntar: Deveria Jesus ter
escolhido Judas para ser um dos doze? Deveria Jesus ter salvado Judas do
seu destino? Jesus poderia ter arranjado um plano alternativo para
encontrar os soldados no jardim daquela noite que não envolvesse a queda
de um dos que pertenciam ao seu círculo íntimo?
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