O pastor encerra seu sermão: “O Espírito Santo convida você
a vir. A congregação orando, esperando ansiosa, convida você a vir. Na primeira
nota da primeira estrofe, desça as escadas, desça por estes corredores. Que os
anjos possam acompanhá-lo. Que o Espírito Santo de Deus o encoraje. Que a
presença de Jesus caminhe ao seu lado enquanto você vem, enquanto nós
permanecemos em pé e cantamos ao Senhor”. E as pessoas realmente vêm. Semana
após semana, em igrejas por todo o mundo, cenas como essa acontecem ao fim de
milhares de sermões. A congregação fica em pé e canta; os pecadores caminham
pelos corredores e oram por salvação.
Este método evangelístico bem comum, conhecido como sistema
de apelo, não foi sempre assim. Evangelistas bem-sucedidos como George
Whitefield, Jonathan Edwards e John Wesley nunca fizeram um chamado ao altar.
De fato, eles nem sequer sabiam o que era isso. Eles convidavam seus ouvintes
apaixonadamente para vir a Cristo pela fé e aconselhavam regularmente os
pecadores ansiosos depois dos cultos. Mas não lhes pediam para dar uma resposta
pública ou física após os sermões evangelísticos. Então, de onde vem esta
prática?
Inicialmente, o apelo era usado como um meio eficiente de
reunir pessoas espiritualmente interessadas em se juntarem para aconselhamento
após um sermão. Em vez de procurar os penitentes um a um, o pregador os chama à
frente, ou a outra sala, para conversar e orar. Alguns pastores usaram este
recurso no fim da primeira década do século 18, mas apenas durante os encontros
campais do segundo grande despertamento da América foi que eles realmente
ganharam espaço.
Os encontros campais eram comuns em Estados de fronteiras,
como Kentucky e Tennessee, por volta do começo do século 19. Estas reuniões que
duravam alguns dias eram um meio de os ministros (a maioria metodista, batista,
presbiteriana e discípulos) introduzirem o evangelho aos colonos rurais. As
primeiras reuniões campais foram feitas com pregações apaixonadas e respostas
extremas. Centenas de ouvintes gritavam, gemiam, desmaiavam, contorciam-se e
choravam desesperadamente. Os pregadores geralmente viam estas respostas como
evidência da obra do Espírito Santo.
Por volta de 1805, estes movimentos corporais espontâneos
eram menos comuns. Os ministros faziam um “apelo” como um meio visível de medir
a resposta das pessoas às suas mensagens. Os “altares” eram áreas cercadas
perto do lugar principal de pregação no campo onde os pregadores desafiavam os
pecadores a buscar a salvação. O pregador metodista Peter Cartwright descreveu
um encontro campal em 1806: “O altar estava cheio de gente transbordando em
lamentos”. Outro pregador metodista contou detalhadamente o momento em que “o
cercado estava tão cheio de gente que as pessoas não tinham a possibilidade de
fazer qualquer movimento lateral, mas estavam literalmente cambaleando em
massa”. Os metodistas experimentaram um crescimento exponencial durante os
primeiros do século 19, em parte por causa de seus métodos evangelísticos,
incluindo os encontros campais e os apelos públicos.
Muitas pessoas consideram Charles Grandison Finney
(1792-1875) o “pai do apelo”. Ordenado ministro presbiteriano em 1823, Finney
começou a fazer os convites públicos muito tempo depois de os metodistas já
terem feito desse método parte regular de seus encontros campais. Finney,
entretanto, fez mais que qualquer outro para estabelecer os apelos como uma
prática aceitável e popular no evangelismo americano. Ele normalmente chamava
os pecadores ansiosos até a frente da congregação para se sentarem no “banco
dos ansiosos”. Ali, eles recebiam oração e geralmente ouviam um sermão
individual. O apelo também foi uma das famosas “novas medidas” de Finney. Ele
estava convencido de que os pastores poderiam produzir avivamento usando os
métodos corretos e que, chamar pecadores arrependidos à frente “era necessário
para tirar [os pecadores] do meio da massa de ímpios para levá-los a uma
renúncia pública de seus caminhos pecaminosos”.
Enquanto muitos abraçaram as “novas medidas” de Finney,
outros estavam desconfiados da teologia que sustentava a prática. Finney
acreditava que a morte de Cristo tinha tornado a salvação possível para todos.
A depravação humana era “uma atitude voluntária da mente”, e não algo que tinha
nascido conosco. A conversão, portanto, dependia da vontade humana ser
convencida a se arrepender e confiar em Cristo. De acordo com Finney, o apelo
era uma ferramenta muito persuasiva para mudar a vontade humana. Ministros
calvinistas, como Asahel Nettleton, rejeitaram a confiança que Finney tinha na
capacidade humana e sua dependência no sistema de apelo. Eles acreditavam que o
ser humano nasceu com uma natureza pecaminosa. Os pecadores eram incapazes de
confiar em Cristo até que Deus mudasse seus corações. O historiador Iain Murray
aponta que muitos oponentes ao apelo “alegavam que o chamado para uma
‘resposta’ pública confundia um ato externo com uma mudança espiritual
interna”. Além disso, diz Murray, o apelo efetivamente “instituiu uma condição
de salvação que nunca apontava para Cristo”. Os críticos argumentam que o evangelismo
dessa forma resultou em uma falsa segurança, já que uma grande parcela daqueles
que iam à frente para “receber a Cristo” logo apostatavam.
A despeito das críticas, o sistema de apelo continua com
força. Tornou-se um artefato permanente no evangelismo americano. Só é preciso
assistir a alguns poucos minutos de uma cruzada de Billy Graham na televisão
para reconhecer que aquilo que um dia foi uma “nova medida” se tornou uma
tendência dominante. A voz distinta de Graham chama em alto som: “Suba ali,
desça aqui, eu quero que você venha. Se você estiver com parentes e amigos,
eles vão esperar por você. Os ônibus vão esperar por você. Cristo percorreu
todo o caminho da cruz porque Ele o amava. Certamente você pode dar alguns
passos e dar sua vida a Ele”. Enquanto o local deixou de ser a remota Kentucky
e se transferiu para os modernos estádios de futebol, e o meio de transporte
evoluiu de carroças cobertas para ônibus fretados, o sistema de apelo resistiu.
É caracterizado até hoje nas histórias de incontáveis cristãos que contam ter
encontrado Cristo quando ficaram em pé, ergueram suas mãos, deram passos até a
frente e chegaram ao altar, respondendo ao apelo.
Um comentário:
"Os críticos argumentam que o evangelismo dessa forma resultou em uma falsa segurança, já que uma grande parcela daqueles que iam à frente para “receber a Cristo” logo apostatavam", uma observação bastante pertinente. O problema é que hoje no Brasil se vc não fizer apelo, os que realmente se converteram acham que não se converteram!Tanta gente que diz que ouviu uma vez a Palavra, entendeu, "quis se converter" mas esperou ir a um culto pra poder se "converter", não entendendo que o ato da iluminação já é o Espírito mostrando que a pessoa é filha de Deus.
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