Ao que me parece, devido a várias consultas pessoais a amigos adventistas, além da devida literatura, há uma certa variedade de pensamento a respeito do dom profético atribuído a Sra. White dentro do adventismo. Trata-se de um paradoxo muito interessante. Por um lado, nos é passada a ideia de que White foi profeta inspirada por Deus, e colocada por Ele como um tipo de “profeta do fim”, ou profeta para “o povo remanescente”. Tal entendimento é tão significativo, que o “povo remanescente” é identificado como aquele que possui “o espírito de profecia”, que por sua vez é atribuído ao dom profético de Ellen White. Segundo tal linha de raciocínio, conclui-se que a Igreja Adventista é o “povo remanescente”, e que a prova dessa alegação é Ellen White, ou seja, o “espírito de profecia”.
Entretanto, há outros lados nessa história. Em minhas consultas e debates com adventistas, já encontrei afirmações que tentam relativizar tais afirmações sobre “espírito de profecia” e “povo remanescente”. Já ouvi, inclusive, alguém me dizer que fazia uso das obras de Ellen White, do mesmo modo que eu, cristão reformado, faço uso dos escritos de João Calvino.
Me parece, todavia, tarefa hércula tentar relativizar afirmações que são feitas, em caráter oficial, a respeito da autoridade profética da Sra. White. A seguir listarei alguns exemplos:
“Ellen White morreu no dia 16 de julho de 1915. Por 70 anos ela apresentou fielmente as mensagens que Deus lhe deu para seu povo” (Quem foi Ellen White; do portal Ellen White Books).
Eis aqui uma afirmação impossível de se relativizar. A Sra. White é apresentada como “fiel mensageira” de Deus, tendo recebido dele a tarefa de entregar mensagens “para seu povo” - o que afirma-se ter sido feito integralmente. Se devemos levar tal afirmação a sério, implica que os adventistas admitem que os escritos de Ellen White são inspirados e fiéis ao que Deus lhe revelou e, portanto, infalíveis. Tal interpretação não é minha, mas assumida por grandes apologistas de Ellen White, como veremos na citação a seguir:
“O 'Espírito de Profecia' é o que, segundo as Escrituras, a par com a guarda dos mandamentos de Deus, seria o característico da igreja remanescente... Este dom consiste precipuamente em dar ao povo de Deus mensagens diretas e específicas, traçando-lhe normas e diretrizes, dando-lhe orientação e instruções especiais... Os testemunhos orais ou escritos da Sra. White preencem plenamente este requisito, no fundo e na forma. Tudo quanto disse e escreveu foi puro, elevado, cientificamente correto e profeticamente exato” (CHRISTIANINI, Arnaldo B., Subtilezas do Erro, Casa Publicadora Brasileira).
E o senhor Christianini, seguro de suas convicções, e depois de afirmar que nenhuma critica jamais prevaleceu contra tais escritos, lança o desafio: “Os seus escritos, agora vertidos em quase todos os idiomas, aí estão a desafiar a critica honesta”.
Natural que, dada tais assertivas, todos os olhares se fixem na exatidão das revelações da Sra. White. Natural também que posições em conflito com tais assertivas, oriundas do próprio seio adventista, nos causem estranheza. Ainda mais quando tais “conflitos” nascem da pena de fervorosos apologistas do adventismo. É o caso de Samuele BacchiocChi, que nos diz: “Eu discordo de Ellen White, por exemplo, quanto a origem do Domingo. Ela ensina que nos primeiros séculos todos os cristãos observavam o Sábado, e que graças aos esforços de Constantino que a guarda do Domingo foi adotada pelos cristãos, já no Século IV. Minha pesquisa mostra o contrário... Eu situo a origem da guarda dominical no tempo do Imperador Adriano, em 135 d.C.” (BACCHIOCCHI, Samuele; em e-mail enviado ao “Catholic Free Maing List”, 08 de Fevereiro de 1997).
E, para que ninguém pense que o e-mail acima é forjado, citamos ainda as palavras de Alberto R. Timm, em estudo publicado no portal adventista Centro White: “A tese doutoral de Samuele Bacchiocchi,... demonstra “que a adoção do domingo em lugar não ocorreu na primitiva Igreja de Jerusalém, por virtude de autoridade apostólica, mas aproximadamente um século depois na Igreja de Roma” (Do Sábado para o Domingo, Centro White).
Acredito que Bacchiocche, por seu comprometimento com a causa adventista, nos serve como testemunha insuspeita contra a exatidão dos escritos da Sra. White; e, certamente, enquadra-se naquilo que o senhor Christianini queria dizer por “critica honesta”. Um critica honesta, que vai de encontro ao conteúdo da revelação dada a Sra. White. Ao relatar o que lhe fora revelado em uma visão ocorrida em 27 de Junho de 1850. Esta e outra visões estão registradas na obra “Primeiros Escritos”, disponível no Ellen White Books. Na visão que temos em mente, na qual, novamente junto a seu “anjo acompanhante”, ela diz “Roma mudou o dia de repouso do sétimo para o primeiro dia da semana. Ele imaginou mudar o próprio mandamento que foi dado para levar o homem a lembrar-se do seu Criador. Pensou em mudar o maior mandamento do Decálogo e assim fazer-se igual a Deus, ou mesmo exaltar-se acima de Deus... o Papa exaltou-se acima de Deus”.
Vale observar que tais palavras não são a opinião da Sra. White, mas sim, o conteúdo da revelação que lhe estava sendo dada; imediatamente após ele conta que suplicou “diante do anjo para que Deus salvasse seu povo que se havia desviado”. A tese de White é que, “nos primeiros séculos o verdadeiro sábado era guardado por todos os cristãos”, e que mesmo após o decreto de Constantino “muitos cristãos tementes a Deus... mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento” (WHITE; Ellen G.; 'O Grande Conflito', pg. 52, Ellen White Books). Como vimos, tal tese não pose ser sustentada, o que reconhece até mesmo afamados apologistas da causa adventista.
O registro bíblico e da história da Igreja facilmente nos mostra que a Igreja de Cristo adorava ao Senhor no “primeiro dia da semana”, tido como “o Dia do Senhor”, cuja escrita em grego originou o termo “domingo”.
“Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei as Igrejas da Galácia: no primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam coletas quando eu chegar” (I Coríntios 16.1,2). Os adventistas alegam que este texto ordena que tal coleta fosse feita “no primeiro dia da semana”, apenas visa evitar que Paulo perdesse tempo fazendo tais coletas ao chegar na cidade! Evidentemente Paulo queria evitar a perda de tempo com coletas feita em cima da hora, mas isso não explica a ordem de que tal coleta fosse feita no primeiro dia da semana, exatamente! Isso também não explica o fato de que, segundo Paulo, esta mesma ordem foi dada a todas as Igrejas da Galácia: “o mesmo que ordenei as Igrejas da Galácia”!
A única explicação possível aqui é, no primeiro dia da semana, a Igreja ajuntava-se, solenemente, para o culto prestado ao Senhor, no qual se realizava a comunhão eucarística: “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos PARA partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles, e prolongou a prática até a meia-noite” (Atos 20.7). Interessante observar, que na exegese adventista, o motivo de terem se reunido no “primeiro dia da Semana”, foi a viagem de Paulo, que aconteceria no dia seguinte. No entanto, o texto deixa bem claro que eles se reuniram para “partir o pão”, e que a viagem de Paulo é citação meramente acidental. Ou seja, estando todos reunidos, no primeiro dia da semana, PARA partir o pão, ficaram ouvindo o discurso prolongado de Paulo, que haveria de viajar no dia seguinte. Este é o claro sentido natural do texto, inaceitável para a exegese adventista.
Fora tão claro testemunho bíblico, a favor da observância do dia da Ressurreição de Cristo, a profetiza do movimento adventista ainda precisa lidar com o testemunho amplo presente na História da Igreja: Didaque, Barnabé, Plínio, Justino, Clemente, etc.
A inexatidão da revelação da Sra. White concernente a quem mudou o dia de guarda cristão, é apenas uma dentre as provas que poderíamos listar contra a alegação dela ter sido uma profeta inspirada, fiel. E ainda mais necessário dizer: sua inexatidão prova que o povo adventista, ainda que afirme apegar-se ao princípio do Sola Scriptura, perigosamente alinha-se ao que foi escrito por Ellen G. White, assumindo o pressuposto de que mesma é portadora de uma “mensagem fiel” para a igreja dos últimos dias.
Nota: para saber a visao protestante (reformada) sobre o Quarto Mandamento, clique aqui.
2 comentários:
PRIMEIRO PEÇO QUE CONTINUE SENDO HONESTO E PUBLIQUE ESTE TEXTO ABAIXO:
MARCELO, AINDA QUE VOCE DIGA QUE O "ERRO" DE ELLEN G. WHITE COMPROMETA ELA COMO INSPIRADA... ENTÃO LÁ VAI O BACCHIOCCHI E SUA RESPOSTA:
Diz Bacchiocchi: “Deve [o provável erro de Ellen G. White] ser motivo de angustiarmos? NÃO! Por quê? Simplesmente porque os profetas [INCLUSIVE OS DA BÍBLIA] são humanos e cometem erros.
Bacchiocchi continua falando sobre um livro que o Pr. Olson escreveu: "Será que 24 mil morrerram na praga como está em Números 25:9, ou foi 23.000 como está em 1 Cor. 10:8? Salomão tem 40 mil manjedouras para os cavalos (1 Reis 4:25) ou 4000 (2 Cr. 9:25)? Tinha Jeoaquim dezoito anos (2 Reis 24:8) ou oito (2 Cr. 36:9), quando começou a reinar? Acazias vir para o trono 22 anos de idade (2 Reis 8:26) ou 42 (2 Cr. 22:2)? Davi foi o oitavo filho de Jessé (1 Sam. 16:10,11) ou o sétimo filho (1 Cr. 2:15)? Foi o período dos juízes 450 anos de comprimento (Atos 13:20) ou cerca de 350 anos, como seria necessário se 1 Reis 6:1 está correto? "
Para estes poderiam ser adicionadas as discrepâncias numerosos no NT. Por exemplo,os Evangelhos não concordam ainda sobre a data da crucificação de Cristo. Os Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) nos dizem que Jesus foi crucificado na Nisan 15, isto é, um dia depois da Páscoa, enquanto João coloca a crucificação de Nisan 14, isto é, o dia da Páscoa.
Bacchiocchi continua “Na segunda parte do artigo Olson vira-se para Ellen White, fazendo a mesma pergunta: "Existem discrepâncias em suas cartas, artigos e livros? O resposta é, sim. A própria Sra. White permitiu a possibilidade de erros quando escreveu: "Em relação à infalibilidade, nunca afirmei isto, Deus é o único infalível. Sua palavra é verdade, e nEle não há mudança ou sombra de mudança".
Como deve ser lidar com as imprecisões encontradas na Bíblia e Espírito de Profecia? A resposta sensata que Olson dá é que ela não é necessária para que tenhamos uma Bíblia inerrante ou livros do Espírito de Profecia, para o propósito de Deus para ser realizado. "Embora hoje livremente admitir que as fragilidades da humanidade entraram na redação da Bíblia e os livros que amorosamente rótulo como o "Espírito de Profecia," não devemos usar estas imperfeições como desculpas para questionar ou rejeitar os conselhos do Senhor para nós. Se o fizermos, estamos perdidos"
Deus tem falado. Ele falou através dos vasos de barro. Os oráculos divinos carregam as marcas do canal humano através do qual eles vieram a nós. Mas estas mensagens, antigos e modernos, também levavam dentro de si atraentes evidência de sua origem celestial. Ouçamos ".
Conclui Bacchiocchi: “Concordo plenamente com Robert Olson. Vamos ler a Bíblia e os escritos de Ellen White, não à procura de imprecisões, mas para aprender sobre o Plano de Deus para a nossa vida presente e futuro destino.”
FONTE:http://www.biblicalperspectives.com/endtimeissues/et_202.pdf
PÁG. 15 DO PDF.
SÁVIO
Muito bonito senhor anônimo. Quer dizer que para livrar a cara de Hellen White e suas profetadas, se coloca em dúvida a Bíblia, a Palavra de Deus. Ora, todo mundo sabe que as citadas "contradições bíblicas" tem explicação e mais que uma, agora os erros de White são erros. Mas, é sempre assim, para se livra um dogma humano inventado que sustenta uma instituição vai-se as raias de questionar a inerrância da Palavra de Deus. Que fiquem com o tal espirito da profecia, eu prefiro A Profecia. Volte sempre.
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