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terça-feira, 31 de maio de 2011

A GRAÇA


Claudionor Silva Bezerra


Texto Básico: Tito 2.11-15

Texto Áureo: 1Co. 15.10.

Objetivo da Lição: Levar o aluno a compreender a graça nos seus aspectos bíblico-teológicos e sua aplicação prática na vida cristã.

Leitura Diária:

Segunda – Ef.2.1-10

Terça – Mt. 5.43-48

Quarta – Sl.32.1-5

Quinta – 2Tm.2.1-13

Sexta – Rm.11.1-10

Sábado – Jo.1.1-14

Domingo – At.2.37-41

INTRODUÇÃO

Um respeitado teólogo de nosso tempo, J. I. Packer, declarou: “A necessidade mais urgente da cristandade é a de uma renovada conscientização do que a graça de Deus realmente é”.[1] A superficialidade doutrinária que marca nossa geração tem produzido cristãos que não cultivam uma apreciação pela graça de Deus e não se esforçam para aplicar essa graça a cada área de suas vidas. Corremos o risco de entender a vida cristã como um amontoado de regras que precisam ser rigidamente seguidas no ensino correto, no agir correto e no árduo trabalho das atividades da igreja. Sem dúvida essas coisas são importantes, mas precisamos urgentemente compreender que a vida cristã é graça.

Nesta lição abordaremos o uso bíblico do termo graça, a doutrina da graça comum, a graça de Deus na obra da redenção e a graça aplicada ao coração do filho de Deus.


I – O uso bíblico do termo graça

a) No Antigo Testamento. No Antigo Testamento a palavra hebraica hên (חֵן) pode significar graciosidade, encanto, alcançar favor diante de alguém, lealdade, ou boa vontade (Gn.6.8; 19.19; 33.12). As vezes encontramos neste uso também a palavra hesed (חֶסֶד) (Sl. 33.5). A idéia principal é que a graça não é uma qualidade abstrata, mas um princípio dinâmico que se manifesta em atos de bondade. Isto aponta para o fato de que a graça estabelece uma relação entre Deus e os homens: Ele os encara com favor e com bondade (2Sm.7.15; Sl.33.22). Cale notar que Deus tem a iniciativa desta relação, Ele ama sem a necessidade de condições, de mérito algum (Dt.4.37; 10.15). Por isso a eleição de Israel baseia-se sobre a graça de Deus (Dt.7.7). A razão pela qual os homens são perdoados, mesmo em face aos mais terríveis pecados, como aqueles cometidos por Davi, é por causa da livre decisão de sua graça em reconciliar consigo os pecadores (Sl.32.1-5).

1.2 No Novo Testamento. A graça (Gr. χάρις = charis) é o termo mais apropriado para expressar o evento central do Novo Testamento: a vinda de Deus em Jesus Cristo (Jo.1.14, 16). Todo o amor do Deus que dá e perdoa, toda a revelação, conhecimento de Deus, estão em Jesus Cristo para serem comunicados aos homens, a fim de tirá-los das trevas por causa da graça de Deus. O Evangelho é a boa nova da graça de Deus (At.20.24), a “palavra da sua graça” (At.13.43; 14.3; 2Co.6.1). Todos os aspectos da salvação dos homens se fundamentam na graça de Deus (Ef.2.8,9). Por isso, os dons concedidos a igreja são “dons da graça”, é o próprio Senhor agindo na igreja, suprindo-a dos recursos necessários para sua existência.


II – A doutrina da Graça Comum

A doutrina da Graça Comum ensina que a relação entre Deus e os homens não regenerados também fundamenta-se na graça de Deus. Ela é chamada de comum em contraste com a graça salvífica ou especial que somente os eleitos de Deus experimentam. Enquanto a graça especial “remove a culpa e a penalidade do pecado, muda a vida interior do homem, e gradativamente o purifica da corrupção do pecado pela operação sobrenatural do Espírito Santo”.[2] A graça comum se dirige a todos os homens e tem a ver com benefícios comuns que todos recebem. Vejamos alguns meios pelos quais opera a graça comum.

a)A Imagem de Deus no homem. Quando o homem transgrediu a ordem divina e caiu em pecado a imagem de Deus nele foi totalmente afetada, ele foi totalmente depravado (Veja detalhes na lição 01). Todavia restou no homem no estado de pecado um senso da verdade divina. Os Cânones de Dort, documento reformado do sec. XVII, afirmam o seguinte sobre essa matéria: “Permanecem, porém, no homem, desde a Queda, vislumbres da luz natural, pelos quais ele conserva algum conhecimento de Deus”.[3] Ainda que esse conhecimento não seja suficiente para a sua salvação, razão porque ele necessita da Graça Especial, ele revela “a norma da lei gravada no seu coração” (Rm.2.15).

b)A influência da revelação de Deus. O mundo inteiro é beneficiado com a revelação de Deus. Mesmo aqueles que nunca confessaram a Cristo como salvador recebem em alguma medida a luz que emana do Evangelho (Jo.1.9). A consciência do homem natural é abençoada na medida em que este entra em contato com a revelação de Deus.

c)Governos humanos. O apóstolo Paulo afirmou que “não há autoridade que não procede de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rm.13.1). Quando os governos humanos cumprem sua função para manter a boa ordem na sociedade eles são ministros de Deus para o bem de todos os homens.

d)Bênçãos naturais e recompensas divinas. A afirmação de Jesus na qual Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt.5.45) é um grande exemplo da Graça Comum. Semelhantemente o apóstolo Paulo em Atenas testemunhou: “pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At.17.25). Além dessas bênçãos naturais a vida humana testemunha muitas recompensas e punições divinas. Assim, “muitos se esquivam do mal e buscam o bem, não porque temam Deus, mas porque percebem que o bem traz sua própria recompensa” (Louis Berkhof).[4]


III – A graça de Deus na obra de redenção

A graça de Deus na obra da redenção chama-se Graça Especial, salvífica ou eficaz. Hermisten Maia a define como “favor imerecido, manifestado livre e continuamente por Deus aos pecadores que se encontravam num estado de depravação e miséria espirituais, merecendo o justo castigo pelos seus pecados”.[5] Na obra da redenção, mérito e graça são conceitos que se excluem: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm.11.6). A idéia de merecimento está totalmente excluída da salvação por graça (Ef.2.8,9). Calvino afirmou que “a graça divina e o mérito das obras humanas são tão opostos entre si que, se estabelecermos um, destruiremos o outro”.[6] Para compreendermos a graça na obra da redenção precisamos distinguir alguns aspectos. Observe:

a) Graça é um atributo de Deus. Como atributo de Deus a graça tem relação com outros aspectos do seu santo caráter. A graça é eterna. Paulo escrevendo a Timóteo nos apresenta a graça como parte do propósito eterno de Deus (2Tm.1.9); A graça é livre. Ninguém poderá jamais pagar a obra da graça de Deus (Rm.3.24); A graça é soberana. A manifestação da graça de Deus não ocorre por obrigação ou necessidade. Ele é livre em exercê-la como lhe apraz (Ex.33.19).

b)Graça é a provisão para a salvação do homem. Paulo afirma isso quando declara que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt.2.11). Não existe nenhuma classe de pessoa excluída. Nos versículos que antecedem essa afirmação Paulo destacou os homens e as mulheres idosas, os moços, os servos e nos versículos seguintes ele menciona as autoridades dando provas que a graça salvadora se manifestou para todos. A graça como provisão para salvação é contrastada com a lei de Moisés. João ensina: “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo.1.17). A ênfase do evangelista João se deve ao fato de que “nem hipoteticamente seria possível ao homem ser salvo pela lei depois da entrada do pecado no mundo” (Mauro Meinster).[7]

c)Graça é a ação redentora do Espírito Santo. Na conclusão do seu sermão, Pedro exortou os seus ouvintes que o derramamento do Espírito era uma promessa para todos aqueles que se arrependessem. Eles receberiam o “dom do Espírito Santo” (At.2.39). A raiz grega da palavra “dom” é a mesma da palavra “graça”. Assim, o dom do Espírito Santo é bênção da salvação pela operação do Espírito. Por isso, a aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo é também manifestação da maravilhosa graça.


IV – A graça na vida do crente

Dave Harvey definiu graça como “o poder de Deus para ajudar-nos a vencer o pecado e uma arma potente nas lutas violentas que acompanham a vida após a lua-de-mel da conversão”.[8] Todos nós precisamos diariamente da graça de Deus para perseverar na carreira cristã. Muitas pessoas não percebem como a graça de Deus deve atuar na vida diária. Em Tito 2.11-14 Paulo nos conduz para uma profunda conscientização sobre o que a graça realmente significa.

a)Graça: o poder para renunciar o velho procedimento. No versículo 12, descobrimos que a graça se manifesta “educando-nos para que, renegadas a impiedade e paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”. Ela nos ensina a viver cada momento único e particular da vida que levamos como um instrumento de crescimento e abandono da antiga vida que tínhamos.

b)Graça: o poder para esperar. No versículo 13, o segundo componente da graça nesta passagem aponta para uma marca da vida cristã: esperar. Não importam as coisas ruins que aconteçam. Deus nos dará a graça de esperar “a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”.

c)Graça: o poder para querer. No versículo 14, somos informados que a graça produz um povo zeloso de boas obras. A graça atua no íntimo daquele que foi salvo redirecionando seus desejos e motivações. Quando um cristão pratica boas obras ele não pode se orgulhar disso, tudo o que fizermos para honrar a Deus terá sido fruto da sua graça em nós.

d)Graça: o poder para testemunhar. No versículo 15, somos chamados a transmitir essa graça que nos alcançou. Somos vocacionados para “dizer estas coisas”. A missão da igreja é uma chamada para transmitir graça ao mundo.


CONCLUSÃO

Se quisermos vencer a superficialidade doutrinária e a ineficácia no testemunho cristão na nossa geração precisamos reerguer novamente a bandeira da reforma protestante: Somente a Graça. Somente a graça para conduzir pessoas ao conhecimento salvador de Cristo. Somente a graça para edificarmos uma igreja vigorosa nas Escrituras. Somente a graça para sermos cheios do Espírito Santo e impactarmos nossa sociedade.


NOTAS

[1] PACKER, J. I. Vocábulos de Deus. 2ª Ed. São José dos Campos, SP. Editora Fiel, 2002. p.86.

[2] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas, SP. Luz para o Caminho, 1998. p.437.

[3] http://www.monergismo.com/textos/credos/dort.htm. Acessado em: 14 de Setembro de 2010.

[4] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.442

[5] MAIA, Hermisten. Fundamentos da Teologia Reformada. São Paulo, SP. Mundo Cristão, 2007. p.84.

[6] CALVINO, João. Exposição de Romanos. São Paulo, SP. Paracletos, 1997. p.388.

[7] MEISTER, Mauro. Lei e Graça. São Paulo, SP. Cultura Cristã, 2003. p.79.

[8] HARVEY, Dave. Quando pecadores dizem sim. São José dos Campos, SP. Editora Fiel, 2010. p.128.


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Lição publicada na revista para a Escola Dominical A Doutrina da Salvação editada pela Aliança Congregacional.

2 comentários:

Cesar M. R. disse...

Ótimo texto. Por coincidência, estou preparando um "sermão" (coisa que faço uma vez ao ano, em média) a partir do Sl 25 e havia pensado em mencionar justamente esse texto da carta de Paulo a Tito. Acontece que no Salmo há uma referência dupla: ao perdão e ao ensino de Deus. Lembrei, então, que o Perdão não exclui a expectativa do aprendizado: "Os seus pecados estão perdoados. Vai e não peques mais!". Bem, esse texto de Paulo deixa claro que a expectativa de que os seres humanos tenham comportamento ético maduro não deixou de existir nos planos de Deus. Algumas pessoas confundem tudo isso e pensam que a Graça é uma licença para a vadiagem. Nesse caso, Deus estaria dizendo: "Ah, cansei, vai lá, se arrebenta todo que eu aceito mesmo assim!". Quando, na verdade, deve ser assim: "Vai, eu te aceito por causa de Cristo, vai e faz boas obras, não para conseguir sua salvação, mas porque para isso é a sua salvação". E a boa obra mais esperada é amar. Tá, tô chovendo no molhado.
Abraço,
Cesar

JOELSON GOMES disse...

Cesar, vc n está chovendo no molhado e seus comentários são sempre uma honra para esse blog. Deus oa bençoe sempre.

NÃO PARE AQUI VÁ PARA OS TEXTOS MAIS ANTIGOS.