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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

IGREJA ROMANA DA IRLANDA ENCOBRE ABUSOS SEXUAIS DE PADRES CONTRA CRIANÇAS POR 40 ANOS


A Igreja Católica da Irlanda encobriu abusos sexuais de padres contra crianças da região da capital, Dublin, durante 40 anos, segundo um relatório oficial publicado nesta quinta-feira (26/11). Segundo o documento, as autoridades deram cobertura aos abusos.


Com 700 páginas, o documento, que cobre a Arquidiocese de Dublin, foi elaborado por uma comissão presidida pela juíza Yvonne Murphy e foi apresentado com uma série de cortes para não levar a prejulgamentos.


O arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, pediu desculpas e expressou seu "pesar e vergonha" pelo encobrimento dos abusos.


Segundo o religioso, o documento evidencia "os devastadores efeitos" que tiveram os fracassos do passado e considerou que "não há margem de manobra para cair no revisionismo sobre as normas e procedimentos adotados".


"Ofereço a cada um dos sobreviventes minhas desculpas, pena e vergonha. O fato de que os abusadores eram sacerdotes é uma afronta. Nenhuma palavra de desculpa será suficiente", acrescentou o arcebispo.


O governo irlandês pediu desculpas por seu "fracasso" em proteger as crianças e afirmou que "isso não voltará nunca a acontecer".


Relatório


A conivência entre a hierarquia eclesiástica e as autoridades do Estado, entre elas a própria polícia e a procuradoria, serviu, diz o texto, para encobrir os esforços de quatro bispos de Dublin em manter o prestígio da Igreja, proteger os pedófilos e evitar escândalos.


O relatório, resultado de três anos de investigações, afirma que a política e táticas de ocultação da Igreja podem ser resumidas na frase "não pergunte, não fale".


"A comissão não tem dúvida alguma que o abuso sexual clerical foi encoberto pela arquidiocese de Dublin e por outras autoridades da Igreja. As estruturas e regras da Igreja Católica facilitaram esse encobrimento", explica o texto.


"As autoridades do Estado facilitaram o encobrimento ao não cumprir suas obrigações e garantir que a lei fosse aplicada a todos por igual, o que permitiu que as instituições da Igreja se mantivessem fora do alcance do processo legislativo normal", acrescentou.


A comissão investigadora da arquidiocese de Dublin examinou as acusações de 450 pessoas apresentadas contra 46 sacerdotes por fatos ocorridos entre 1975 e 2004, assim como a gestão do escândalo por 19 membros da hierarquia católica, entre eles o cardeal Desmond Connell.


O cardeal chegou a ir aos tribunais para impedir a entrega de 5 mil documentos arquivados durante seu exercício à frente da arquidiocese, pedido que foi negado.


Quando abordou as denúncias de maus-tratos sexuais, Connell estabeleceu em duas ocasiões julgamentos secretos sob os termos da lei canônica, segundo o relatório.


Embora a comissão não tenha encontrado provas da existência de uma rede organizada de pedofilia na arquidiocese, detalhou vários casos tão estarrecedores quanto os do "relatório Ryan", de maio.


Um sacerdote, por exemplo, admitiu ter cometido abusos sexuais contra mais de 100 menores, enquanto outro confessou que, durante o exercício de mais de 25 anos de ministério, abusava de menores a cada "duas semanas".


Em outra instância, o relatório denuncia que a polícia irlandesa levou 20 anos para apresentar acusações contra um sacerdote.


Em maio passado, um relatório semelhante já havia revelado abusos físicos e psíquicos contra milhares de crianças em centros educativos públicos administrados pela Igreja.


g1

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