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quarta-feira, 17 de junho de 2009

O SIGNIFICADO DO BATISMO JOANINO.

Demonstrando-se que o batismo de João fundamenta-se nas purificações judaicas do Antigo Testamento, procura-se agora determinar que significado as pessoas que iam ao seu encontro para serem batizadas, atribuíam àquela cerimônia.

Goppelt é enfático ao afirmar: “Sem dúvida, o batismo dos discípulos era como o de João, um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados, isto é, um banho de água que purificava de tudo o que ocorrera até então e que propiciava perdão e arrependimento”.[1]

Kúmmel demonstra ter a mesma compreensão:

Contudo, pode-se dizer, com grande probabilidade, que o batismo era compreendido como um sacramento relacionado com o iminente juízo final, o qual equipava e purificava a pessoa que se arrependia e se deixava batizar por João, para que assim pudesse subsistir diante do juízo final.[2]

Além da opinião destes eminentes teólogos, F. F. Bruce, também faz uma observação muito própria aqui: “Ensinava João que o batismo era aceitável a Deus desde que lhe sujeitassem não com vistas à remissão de certos pecados apenas, mas à purificação do corpo, se a alma já estivesse purificada pela justiça”.[3]

Assim, a Teologia tem a compreensão de que era como um símbolo de purificação que os contemporâneos do Batista entendiam o seu rito. As pessoas iam até João porque viam no uso que o mesmo fazia da água um símbolo do lavamento de suas impurezas. Usavam a água cerimonialmente para se purificarem como os seus antepassados sempre a usaram.

As escrituras têm um texto-chave para confirmar este entendimento, é o seguinte:

Μετά ταύτα ήλθεν όІησούς καί οί μαθηταί αύτού είς τήνΙοδαίαν γήν καί έκεί διέτριβεν μεταύτών καί έβάπτιζεν. ήν δέ καί όΙωάννης βαπτίζων έν Aίνών έγγύς τού Σαλείμ, ότι ύδατα πολλά ήν έκέί, καί παρεγίνοντο καί έβαπτιζοντο· ούπω γάρ ήν βεβλημένος είς τήν φυλακήν όΙωάννης. ’Εγένετο ούν ζήτησις έκ τών μαθητώνΙωάννου μετάΙουδαίου[4] περί καθαρισμού (Jo. 3:22-25, grifo meu).

(Tradução) Depois disso Jesus foi com os seus discípulos para a terra da Judéia, onde passou algum tempo com eles e batizava. João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e o povo vinha para ser batizado. (Isto se deu antes de João ser preso.) Surgiu uma discussão entre alguns discípulos de João e um certo judeu, a respeito da purificação cerimonial (NVI, grifo meu).

A passagem é clara e didática facilitando assim a interpretação. O evangelista começa falando da atividade batismal paralela entre João e os discípulos de Jesus (22-14) (cf. Jo. 4: 1), em seguida desenvolve sua narrativa dizendo que após a observação desta prática batismal, por um judeu, deu-se origem a uma discussão acerca da purificação (25). A um observador atento surge logo uma pergunta: Por que a discussão se dá em torno da purificação, se o que o judeu observou foram batismos? A resposta é lógica, e é a razão do escritor João ter registrado o episódio, ele quer mostrar como os batismos observados por este judeu eram entendidos. Para este homem o batismo joanino (como o dos discípulos de Cristo) era um rito de purificação, assim como os ritos purificadores que o povo judeu praticava a tanto tempo, e que estavam prescritos na Lei de Moisés. E assim, este entendimento do batismo, reforça a tese de que a origem do mesmo está nos rituais feitos com água pelos judeus e estabelecidos na tradição judaica.

Deve-se destacar na passagem citada, para aprofundar a compreensão acima, o termo καθαρισμού (katharismoú) [5] (genitivo de καθαρισμός (katharismós)) usado no verso 25. Este judeu ficou com uma dúvida ao observar João batizando acerca da καθαρισμού. Xavier Leon Dufour assim comenta o caso:

Situa-se uma discussão a propósito de “purificação”. Com esse termo (katharismós), escolhido preferencialmente ao de “batismo”, que se poderia esperar em virtude do contexto imediato, João sugere provavelmente que a controvérsia se dá quanto ao valor purificador do batismo, o único que os judeus conheciam: o rito praticado por Jesus é ou não mais eficaz que o de João? [6]

E Johan Konings é mais direto e claro em suas observações sobre a mesma passagem:

Os discípulos de João (representando um grupo minoritário dentro do judaísmo dominante) se envolvem numa discussão sobre “purificação” (equivalente a “batismo na terminologia judaica). Talvez interpretassem a atividade batismal de Jesus como sinal de missão escatológica, messiânica. Os profetas falam do batismo ou purificação com “espírito” (cf. Jl 3; 1; Is. 32: 15; 44: 3; Ez. 39:29) e mesmo com fogo (Is. 1: 25; 4: 4, etc.). Mt. 3: 8 mostra que isso se esperava também para o tempo do Messias. Quem batiza legitimamente, Jesus ou João? Qual dos dois é o enviado escatológico (cf. Jo. 1: 19-27): Em qual deles acreditar? [7]

É cristalina a compreensão dos contemporâneos do Batista, segundo o texto analisado, do seu rito batismal como significando uma purificação simbólica. Berkhof também afirma que a idéia de purificação era algo pertinente a todos os batismos do Antigo Testamento, e também ao batismo de João. [8] O Batista realmente não introduziu uma novidade no seu tempo, veio fazendo algo que os seus contemporâneos já praticavam e que continuaram interpretando como sinal de purificação. O batismo de João está, pois, na linha das purificações judaicas do Antigo Testamento, e era assimilado como tal na sociedade da época.

NOTAS


[1] Teologia do Novo Testamento, p. 262 (Grifos dele sublinhados meus).

[2] Síntese Teológica do Novo Testamento, p. 49 (Grifo meu). Pela fraseologia usada parece que J. Jeremias também entende o batismo joanino como tendo o significado de purificação, ver: Teologia do Novo Testamento, p. 74. E também GOPPELT L. Leonhard. Teologia do Novo Testamento, p. 76.

[3] Merece Confiança o Novo Testamento? p. 139 (Grifo meu).

[4] Ambos ’Ιουδαίου e ’Ιουδαίων são leituras antigas, e tem um suporte dividido. Por exemplo: μετά ’Ιουδαίου é encontrado no papiro P 75, e em manuscritos tais como: א2 A B L Wsupp A Ψ etc. Já μετά ’Ιουδαίων encontra-se em P66 א * G θ 0141, etc. Bruce M. Metzger diz que é mais provável que o singular tenha sido trocado por ser mais costumeiro o uso do plural. Ver: A Textual Commentary on the Greek New Testament, p. 315; também o aparato crítico em The Greek New Testament, p. 323; e os comentários de Raymond E. Brow sobre o texto: El Evangelho Segun Juan I – XII, p. 351.

[5] “O termo Katharismós designa um ato cultual produzindo a purificação do pecado (Ef 5,26; 2Pd 1,9; cf. 2,6)”. LEON – DUFOUR, Xaxier. Leitura do Evangelho Segundo João (I), p. 248, nota 88. Ver também: RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento, p. 241.

[6] Leitura do Evangelho Segundo João (I), p. 248 (Grifos dele). “O judeu, fosse amigo ou inimigo de Jesus, sem dúvida havia se informado que as multidões estavam recebendo o batismo da parte do Senhor; e esta informação levou a uma discussão sobre a origem e a significação do rito como símbolo de purificação. Teria Jesus o mesmo que João, o direito de administrá-lo? Se era assim. Significaria o mesmo administrado por João quando era administrado por Jesus? Ou seria seu valor maior neste caso que naquele”. HOVEY, Alvah. O Evangelho Segundo João, p.142 (Grifos meus).

[7] Evangelho Segundo João, p. 120 (Grifos meus).

[8] Teologia Sistemática, p. 751.

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