As
Escrituras consideram Deus soberano em tudo. O ser humano está nas mãos dEle
seja de que classe for e para o que for (Pv 21.1; Jr 10.23). Quando o assunto é
a obra missionária a Bíblia também é categórica em afirmar que esta obra
começa e termina em Deus (2Co 5.18-21). Ora, encontramos hoje pessoas confiando
mais em técnicas do que na Soberania divina, e muitos programas são feitos para
impulsionar missões na igreja, as vezes sem levar em conta o que está
registrado nas Escrituras sobre o assunto, como Deus trabalha missões em Sua
Palavra e como Ele nos ensina a fazer. Muitos confiam na força do braço e
invariavelmente os resultados são pífios, longe do que seria se tudo fosse
feito levando em conta o controle do Eterno.
Esta
falta de entendimento da autoridade de Deus em missões é vista também nas técnicas
arranjadas para as programações evangelísticas com o intuito de converter
pecadores, esquecendo-se quem sabe que este poder não está no humano, mas no
Divino. O pregador, o missionário é apenas um instrumento nesse processo, mas
nem é o começo, nem é o final, é uma peça na engrenagem divina, privilegiado
por cooperar com o plano do Criador. Nesse capítulo pretendemos mostrar em
detalhes como Deus é o controlador de todo processo da obra de missões para que
você confie mais nEle, quem sabe você vai ser surpreendido.
I-
Deus chama e
envia os missionários.
Quando
olhamos a Bíblia a procura de como Deus trata missões no seu plano de redenção,
uma característica salta aos olhos: a missão está diretamente ligada a
soberania de dEle. Observe:
a)
Deus chama os
missionários.
Tanto no AT como no NT este fato pode ser observado.
1-
No AT
Isaias quando foi comissionado para o ministério de pregação ouviu claramente a
voz de Deus que o chamava (Is 6. 8-10). O profeta Jeremias passa por
experiência semelhante (Jr 1. 4-10), a sua missão já havia sido delineada por
Deus antes de ele nascer. Com Ezequiel o chamado se dá por iniciativa divina
(Ez 2.1-7), como também com Amós (Am 7. 14-15), Jonas (Jn 1.1-12). Isso mostra
que a vocação do profeta é algo que depende unicamente de Deus.
2-
No NT
encontramos Deus operando de igual maneira. É Cristo quem chama os apóstolos e
discípulos para missões (Mt 10. 1-5; Mc 1.14-20; Jo 15. 16). Quando a Igreja é
formada vemos que a primeira igreja local a fazer missões, a de Antioquia,
também ouviu o chamado de Deus para os missionários (At 13.1-5). Deus era quem
controlava as pregações e por elas chamava os eleitos (At 2. 46-47). Paulo, não
tinha dúvidas de que só era missionário porque Deus o havia chamado
soberanamente (Gl 1.11-17).
b)
Deus envia os
missionários.
Nos textos citados no tópico acima fica implícito e muitas vezes explicito que
o mesmo Deus que chama para missões, é o Deus que envia (Jo 20.21). A tarefa do
missionário não deve ser desempenhada de qualquer maneira porque ela é uma
ordem de Deus, e não um capricho humano. “Aqueles
que são discípulos de Jesus hoje devem ser como os discípulos de Jesus nos
evangelhos: chamados para estar com ele e para ir em seu nome; para fazer a
obra dele, até os confins da terra e até o fim do mundo” (Chistopher J. H.
Wrigth. A Missão do Povo de Deus, p.
264). Tanto na Bíblia quanto na História o ato de escolher e enviar os
missionários é sempre de Deus:
Ninguém
irá negar que Deus convocou Lutero, ou Calvino, ou John Knox, ou John Wesley,
ou George Whitefield, ou Jonathan Edwards, ou William Carey, ou Rowland
Bingham, e assim por diante. A soberania de Deus não é frustrada pela falta de
ação em conjunto, nem necessariamente retardada por instituições aprovadas mas
estagnadas. O princípio de designação seletiva está bem fundamentado, tanto
bíblica quanto historicamente (George W. Peters. Teologia Bíblica de Missões, p. 277).
II-
Deus concede a
mensagem
É claro que a soberania de Deus não
se limita apenas ao chamado e envio dos missionários. Temos como princípio bem
assentado nas Escrituras que a mensagem a ser pregada pelos enviados também
está debaixo da autoridade de Deus. O missionário, portanto, não pode pregar o
que bem entender, mas apenas o que lhe for ordenado nas Escrituras. A mensagem
do missionário não é dele, não é a que ele acha que vai fazer sucesso, ele
apenas é um retransmissor, não o originador da mesma. Só o Evangelho conforme a
Bíblia e não conforme a moda deve ser esta mensagem.
a)
A fonte da
mensagem.
O Pacto feito no Congresso de Lausanne, Suíça (1974) definiu a ação de
evangelizar nos seguintes termos:
Evangelizar
é divulgar as boas novas de que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados e
ressuscitou dentre os mortos segundo as Escrituras, e que como Senhor e Rei,
Ele oferece perdão dos pecados e o dom libertador do Espirito a todos os que se
arrependem e creem (John Stott, A Bíblia
na Evangelização do Mundo, em Ralph D. Winter, Missões Transculturais, p. 3).
Assim, a fonte da mensagem é a
Bíblia, a Palavra do Verbo Encarnado. No mandato missionário de Jesus Ele disse
que o modo de executar sua missão era ensinando tudo o que Ele ordenou (Mt 28.
18-20), e só se encontra estas ordenanças de Cristo nas Escrituras. Só as
Escrituras ensinadas e compreendidas podem regenerar e produzir fé (Mt 13. 23;
Rm 10. 17; 1Co 4.15; Tg 1.18;1Pe 1.23).
b)
Usando a fonte. Quando
atentamos para os primeiros missionários do NT notamos que a evangelização dos
mesmos era totalmente baseada nas Escrituras. Eles tiravam seu anuncio da
história narrada no AT e sabiam muito bem fazer a correlação com o
acontecimento da vida e morte de Jesus. Observe o que Pedro (At 2. 14-36; 3.
12-26; 4. 8-12); Estevão (At 7. 1-53); Filipe (At 8. 30-35); Paulo (At 13.
16-47, este costumava ir as Sinagogas ensinar as Escrituras: At 17.2; 18.4;
19.8); Apolo (At 18. 24, 28). Todos estes, como modelos da pregação
evangelística na Igreja Primitiva, usam primariamente as Escrituras para
proclamar o Evangelho. Isso sinaliza para nós que missão se faz primeiramente
com conhecimento bíblico-teológico. Para pregar o Evangelho de forma apropriada
é preciso que você conheça muito bem sua Bíblia.
III-
Deus converte os
pecadores.
A obra de missões começa em Deus e
termina nEle, Ele chama os missionários, Ele envia os missionários e lhe dá a
mensagem, Ele convence o pecador de seus erros. Chama os pregadores, e convence
os receptores. Em todo processo Deus está envolvido diretamente e é o condutor.
Veja isso com atenção:
a)
Deus elege. No processo da
salvação creem aqueles a quem Deus escolheu, predestinando antes da fundação do
mundo (At 2. 47; 13. 48; 16. 14; Rm 8. 28-30; Ef 1. 1-5, 11). E não é uma
contradição Deus predestinar e mandar pregar o Evangelho? Não. O mesmo Deus que
escolhe a pessoa para salvar, escolhe também o meio, o jeito de essa pessoa ser
salva. E o Evangelho é o meio de Deus para a salvação (Rm 10. 17). Em Atos 18.
1-11 tem um episódio esclarecedor sobre este assunto. Paulo está atribulado
quanto a sua pregação na cidade de Corinto, ele não sabe se continua ali, ele
está temeroso por causa das pessoas que se opunham ao Evangelho. Nesta situação
Deus o consola e diz que ele não tenha medo e continue pregando, pois ainda
existiam muitos eleitos dEle naquela cidade. Ora, se eram eleitos porque Deus
não salvou logo todos? Não foi assim porque O mesmo Deus que elegeu aquelas
pessoas, elegeu também o caminho para a salvação delas, e esse caminho é a
pregação do Evangelho (2Ts 2.14), o Evangelho é meio, o instrumento de Deus. Deus
diz que era pela pregação de Paulo que Ele iria chamar os seus predestinados
ali em Corinto. Num tempo em que alguns questionam como acreditar na
predestinação e fazer evangelização este texto nos responde esta questão. A
doutrina da eleição não é antagônica com a obra de missões, ao contrário, ela
está intimamente ligada a evangelização, ela garante os resultados da pregação.
b)
Deus chama pela
Palavra.
Como foi dito acima, o Evangelho é o meio usado por Deus para chamar os seus
escolhidos (1Co 1.26-28; 2Ts 2. 13-14; 2Tm 1.8-9). É Deus quem inclina o ser
humano para Si, e assim ele acredita na mensagem (Jo 1.11-13; 6. 37,44).
c)
Deus regenera. A regeneração
é algo que é essencial para o ser humano morto nos pecados creia no Evangelho
(Ef 2.1-7) é algo totalmente divino (Jo. 3. 1-6). Quem abre os olhos do pecador
morto é Deus (1Co 2.14), caso contrário ele nunca atenderia ao chamado do Evangelho.
Só Deus trabalha nesse processo de recriação, e é o Evangelho (a Palavra)
pregado que é usado como meio para que isso aconteça (Jo 6.63; 1Co 4.15; Tg
1.18; Tt 3. 5-6; 1Pe 1.23).
d)
Deus dá a fé. A fé que o
pecador exerce em Cristo ao enxergar o Evangelho não vem de si, mas é uma
dádiva de Deus (Ef 2.8-10), o ser humano recebe de cima a graça de crer (Fp
1.29).
e)
Deus dá o
arrependimento.
O arrependimento também é obra de Deus. O Pecador não se arrepende com suas
próprias forças, ele está morto, mas é levado a isso por ação divina: a
regeneração (At 5.31; 11.18; Rm 2.4-6; 2Tm 2. 24-26).
Ficou surpreso? Pois é. Na salvação
quem faz tudo é Deus, ao ser humano cabe só estender as mãos e receber este
dom. Cada missionário deve pregar com a convicção de que não é a sua pregação,
tom de voz, técnica de apelo, música suave, ou outra coisa que faça que vá
ajudar na salvação das pessoas. Tudo está na dependência de se Deus quer
salvar. Ao pregador cabe apenas obedecer a Deus e pregar, se Deus disse que a
Igreja foi chamada para evangelizar, é isso que a Igreja deve fazer sem
perguntar por que, o resto é com Ele. A missão da Igreja acontece totalmente
debaixo da soberania de Deus. A ordem e os resultados são prerrogativas dEle, ao
servo resta somente aceitar Seus termos em obediência.
Se o chamado é de Deus não podemos
desobedecer, mas acreditar que o Deus soberano que chamou se responsabilizará
pelo resultado e por nosso trabalho. Se a mensagem tem sua fonte nas
Escrituras, devemos conhecê-las profundamente para sermos proclamadores do
evangelho. Se Deus é quem converte o pecador, não podemos confiar em técnicas
humanas, ou em ambientes propícios para tal, quando é Deus de quem todas estas
condições independem. J. I. Packer disse certa vez:
Se considerarmos a nossa função
como sendo não a de simplesmente apresentar a Cristo, mas de efetivamente
produzir convertidos em série- evangelizar não apenas fielmente, mas também ser
bem sucedido- estaríamos revelando uma abordagem meramente pragmática e
calculista da evangelização (Evangelização
e Soberania de Deus, p. 24).
Sim, você que evangeliza deve saber
que também no quesito evangelização devemos estar preparados para dizer que “dEle, por Ele e para Ele são todas as
coisas. Glórias, pois a Ele para sempre” (Rm 11.36).
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