Por Caline Galvão
É
incrível a facilidade com que Paul Tournier consegue chegar ao coração do
leitor através de suas obras. A forma singela como esse psiquiatra suíço
escreve traduz um homem que, embora com vasto conhecimento acadêmico,
utiliza-se de uma gentil humildade para que o leitor menos inteirado sobre o
assunto em pauta tenha condições de ser alcançado e edificado emocional e
espiritualmente pelo conteúdo de seus livros. Entretanto, essa simplicidade da
técnica escrita em nada equivale ao conteúdo complexo e extremamente
inteligente de suas obras, tal como demonstrado em “A missão da mulher”*.
Publicado
pela Editora Ultimato, em 2008, o livro continua atualíssimo, embora tenha sido
escrito e divulgado pela primeira vez há mais de vinte anos. Apropriando-se de
pensamentos da psicologia, de grandes filósofos, sociólogos, de famosos
psicanalistas e de pesquisas realizadas em obras escritas pelas feministas do
Movimento de Libertação Feminina – que muito repercutiu em países europeus e
principalmente nos Estados Unidos, a partir do final da primeira metade do
século XX –, Tournier não abandonou em nenhum momento a filosofia de vida
cristã, vale frisar também que não adotou os artifícios maléficos do
liberalismo teológico.
Durante
toda a obra, o autor procurou compreender os motivos que levaram as mulheres a
se sentirem na obrigação – de certa forma – de reivindicarem seus direitos em
plena efervescência da economia Ocidental. Por diversas vezes, o psiquiatra faz
menção às necessidades primordiais que as mulheres têm e que a civilização
atual não consegue corresponder. Um mundo que deixou de lado e tratou como
inferior a mulher – que foi criada por Deus como complemento e parte essencial
para a vida do homem – sofre as consequências de escolhas machistas,
equivocadas e não-bíblicas.
Salientando
sempre que foi na Renascença e não durante a Idade Média que a mulher foi
inferiorizada e colocada à margem da sociedade, Tournier evoca as qualidades
sensitivas e emocionais que só elas possuem e que foram descartadas pela
humanidade industrializada, protagonizada pela figura do homem. A civilização
que desprezou o ser feminino, o pensamento e o trabalho da mulher, numa época
de grandes transformações sociais em âmbito mundial, sofre o peso de ter
menosprezado por séculos a outra parte do homem, o que complementa e completa a
sociedade, a mulher. “A pessoa é o homem e a mulher juntos, e não o homem
sozinho” (p. 198).
Diante
de um mundo masculinizado, onde as coisas, o tecnicismo e a objetividade são
mais valorizados do que o ser, o pensar e o sentir (mundo feminino), qual seria
o papel fundamental da mulher, sem que esta necessite se equiparar ao homem, a
fim de que seja valorizada? O ideal seria ela buscar meios de se igualar ao
homem, à maneira como o Movimento Feminista reivindica? Paul Tournier, como
homem sábio, não as julga, mas esforça-se por compreendê-las.
Em
“A missão da mulher”, o psiquiatra cristão oferece um valioso convite à
filosofia, à reflexão. Creio ser um livro muito mais necessário aos homens –
àqueles que buscam sabedoria – do que às próprias mulheres. E a mulher, ao
lê-lo, depois de tanta reflexão e conteúdo histórico-filosófico interessante,
por si só descobrirá seu papel, sua missão suprema neste mundo mecânico e frio,
onde, por um grande equívoco, não reservaram lugar que nos caiba. Cabe a nós,
através do nosso amor e afetividade intrínsecos ao universo feminino,
transformá-lo!
“A
agressividade não é nada mais que a sede frustrada de amor”, Stan Rougier,
citado por Paul Tournier (p. 192).
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*A missão da mulher de Paul Tournier é uma publicação da Editora Ultimato ( 208 p.)
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