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sexta-feira, 29 de julho de 2011

A PROPICIAÇÃO


Pr. Weber Alves

INTRODUÇÃO:

O grande dilema do homem desde a sua queda no Éden é o fato de que ele desagradou a Deus. Na verdade, a Bíblia descreve este desagrado em termos da “ira divina”. Embora, muitas vezes, a pregação da igreja contemporânea sugira um Deus encurralado para atender aos “decretos” de uma geração gulosa por bênçãos materiais, a Bíblia apresenta outra situação: um Deus Santo e justo e um homem pecador, carente da graça divina, sujeito à ira de Deus (Jo. 3.36). A expiação é a satisfação das exigências da santidade e justiça divina para salvar o homem desse estado deplorável de pecado. Nas Escrituras Sagradas a expiação é descrita em quatro aspectos distintos: sacrifício, propiciação, resgate e reconciliação. Nesta lição pretendemos falar sobre a propiciação, a saber, o aspecto da expiação que se propõe a remover a ira de Deus.

I – O que é a propiciação?

A propiciação chama-nos a atenção para a ira de Deus e a subseqüente provisão para a remoção dessa ira, pois embora Deus seja Justo e Santo é, ao mesmo tempo, Amor e Graça, o que fez com que Ele providenciasse um meio de remover a sua própria ira.

Definindo: Os substantivos gregos hilasmós, hilastêrion e seus derivados são traduzidos como expiação ou propiciação, aparecendo no N.T. em diversas passagens (Rm. 3.25; Hb. 2.17; 1Jo. 2.2; 4.10), demonstrando que o sacrifício de Cristo não apenas perdoa nossos pecados, mas satisfaz e apazigua a ira de Deus. Propiciação significa literalmente “propiciatório”, isto é, a tampa da arca da aliança, em cujo lugar o sumo-sacerdote aspergia o sangue do sacrifício no Dia da Expiação para apaziguar a ira de Deus de sobre o povo de Israel (Lv. 16.11-19).

II – A necessidade da propiciação.

Há quem pense que a propiciação não seria necessária, como se Deus pudesse restaurar o relacionamento com o homem de outra forma, mas os seguintes argumentos mostram-nos a sua necessidade:

a) O homem é pecador. Desde a queda, tornamo-nos pecadores separados de Deus e sujeitos à morte (Rm. 3.23; 6.23). A Bíblia apresenta a ira de Deus contra o pecado dos homens, comprovando assim a necessidade de uma propiciação (Sl. 5.4-6; Na. 1.3; Rm. 1.18s; 2.5,8; Ef. 2.3; Cl. 3.6), pois Deus não inocentará o culpado (Ex. 34.7; Nm. 14.18).

b) Deus é justo e amoroso. Tão certo como um juiz seria injusto se inocentasse um criminoso, Deus seria injusto se não punisse o pecado, conforme sua lei (Ez. 18.20) já que ele é o juiz de toda a terra (Gn. 18.25). Ao mesmo tempo, Deus amou o mundo perdido (Jo. 3.16) e providenciou um meio de salvação que cumprisse sua justiça e atendesse às necessidades de seu amor. É neste sentido que o apóstolo Paulo diz que somos justificados “por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo [...] tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm. 3.24,26). Alguém já afirmou: “Na Cruz de Cristo o amor e a justiça de Deus se beijaram” (Cf. Sl. 85.10).

c) A própria grandeza do sacrifício de Cristo demonstra a necessidade de uma propiciação. Se não fosse necessário, é claro que Deus não submeteria seu filho Jesus Cristo a terríveis sofrimentos e a uma morte tão vergonhosa como a da cruz. O próprio Jesus falou da necessidade de sua morte (Lc. 24.26) e Paulo diz que Cristo não seria sacrificado, se a lei pudesse dar vida (Gl. 3.21).

III – As sombras da propiciação no Antigo Testamento.

O A.T. era composto de figuras e sombras das coisas celestiais (Hb. 8.5; 9.23), isto é, do que estava por vir através de Jesus Cristo. Assim, vamos estudar como a propiciação era realizada na Antiga Aliança para podermos entender sua consumação na Nova Aliança.

a) Os sacrifícios pelo pecado. Grande parte dos sacrifícios realizados no A.T. tinha como intenção obter o perdão divino por causa do pecado. O próprio Deus estabeleceu os tipos de sacrifícios e seu formato. Os sacrifícios realizados por causa do pecado eram o Holocausto (Lv. 1; 6.8-13), o Sacrifício pelo pecado (Lv. 4-5.13; 6.24-30) e o Sacrifício por sacrilégio (Lv. 5.14-6.7; 7.1-7). Estes sacrifícios judaicos eram expiatórios e não meras expressões de amor por Yahweh (O nome pessoal de Deus no AT). As ofertas procediam de um reconhecimento do pecado e da ira de Deus e foram estabelecidas por Deus para expiação, propiciação e perdão dos pecados (Lv. 1.4; 4.14,20; 5.13). A imposição de mãos sobre a vítima indicava, simbolicamente, a “transferência” do pecado e a substituição como meio de livrar-se da pena. As autoridades judaicas tinham modelos de orações confessatórias, semelhantes a essa: “Confesso-te, ó Senhor que tenho pecado, que tenho agido perversamente, que me tenho rebelado, que tenho (ofensa específica); agora, porém, me arrependo e ofereço esta vítima como minha expiação.”

b) O Dia da Expiação. Além destes sacrifícios expiatórios do culto judaico, havia o Dia da Expiação, uma das grandes festas judaicas. Esta festa era dedicada exclusivamente à expiação (Lv. 16) e era realizada uma única vez por ano; o sumo-sacerdote sacrificava um novilho como expiação por si e pela família, juntamente com um carneiro em holocausto (Lv. 16.3); depois o povo tomava dois bodes que eram sorteados a fim de que um fosse sacrificado e o outro enviado ao deserto como bode emissário (Lv. 16.9-10). Nos outros sacrifícios o sangue do animal era aspergido no altar, mas no dia da expiação era aspergido sete vezes sobre o propiciatório, tampa da Arca da Aliança que se encontrava no Santíssimo Lugar, onde o sacerdote entrava apenas esta vez durante o ano (Lv. 16.14-15). A aspersão do sangue do bode sob o propiciatório cobria o pecado do povo e propiciava a ira de Deus quanto aos pecados dele, abrindo caminho para o perdão gratuito.

c) O sacrifício expiatório por excelência. Por fim, o A.T. não indica apenas soluções imediatas, provisórias e repetitivas; ele anuncia um pagamento final, pois “[…] contém sinais, lampejos, prenúncios de uma solução final para o problema do pecado”. Isaías 53 é uma das mais belas passagens onde há o prenúncio de um sacrifício definitivo realizado por um indivíduo que sofre como substituto (Is. 53.4-5). As enfermidades, dores, transgressões e iniqüidades eram do povo de Deus, aquilo que eles mereciam, e não do servo sofredor, todavia ele as levou “no sentido de suportar, pois ele as carregou como um fardo”. A linguagem propiciatória é clara e incisiva quando se diz que ele recebeu o castigo que trouxe paz aos culpados (v.5). O v.6 mostra a substituição sacrificial, pois “levar pecados” na linguagem bíblica é “levar a culpa ou penalidade” do pecado de outro.

IV – A consumação da propiciação no Novo Testamento

No Novo Testamento temos o cumprimento das profecias da Antiga Aliança. Temos a realidade que foi representada através das figuras e sombras do A.T. Nesta sessão veremos a manifestação plena da propiciação realizada por Cristo.

a) Quem Realizou a nossa propiciação? O autor de Hebreus afirma que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb. 9.22). A ira de Deus deve ser manifesta no indivíduo culpado ou num substituto. No A.T. os animais representavam o ofensor e sofriam a sua punição; no N.T. é Cristo que, com a sua morte, livra os pecadores, sendo o cumprimento das sombras veterotestamentárias (Hb. 9.23,24; 10.1) e da profecia de Isaías (Mt. 8.17; 1Pd. 2.21-25;). Aqueles sacrifícios de animais eram tipos do que sucederia mais à frente com a vinda de Cristo (Hb.10. 3,4). Jesus é aquele que recebeu a ira de Deus e, como resultado disso, Ele é aquele que nos salva da ira divina. Vejamos estes dois aspectos da propiciação:

1) Jesus como recebedor da ira. O Senhor Jesus tinha consciência plena do objetivo de sua encarnação e previu que sua morte seria expiatória e substitutiva (Mt. 20.28; Mc. 10.45; Jo. 10.11,17,18). João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1.29), identificando-o com o cordeiro dos sacrifícios co A. T. e com a profecia de Isaías 53.7. O autor de Hebreus ensina a superioridade de Cristo quanto aos sacrifícios do A.T.: Cristo é tanto o sumo-sacerdote, como a oferta oferecida, uma vez por todas, no tabernáculo celestial (9.11-14), diferente do A.T., em que o sumo-sacerdote oferecia anualmente um sacrifício por si e pelo povo no lugar santíssimo do tabernáculo terrestre (9.24-28). No Apocalipse Jesus também é identificado como o Cordeiro vencedor (Ap. 5.6ss; 7.17; 17.14) e João faz alusão ao seu sangue que fora derramado para comprar homens perdidos de várias nacionalidades (Ap. 5.9). Para compreendermos a ira divina que Jesus carregou, destacamos abaixo três cenas importantes nas últimas horas de vida de Jesus:

· A Ceia do Senhor (Mt. 26.26-30): O pão e o vinho simbolizavam, respectivamente, o corpo e o sangue de Jesus ao ser morto. Sendo que a morte é vista na Bíblia como uma pena, em conseqüência da quebra da Lei de Deus, e não uma questão puramente natural, Jesus não precisava morrer, uma vez que Ele não possuía pecado (Hb. 4.15; 7.26). Todavia, sua morte foi substitutiva e por isso ele disse: “meu corpo, que por vós é dado” e “meu sangue, que é derramado por vós” (Lc. 22.19-20). John Stott diz: “Por intermédio do derramamento do sangue de Jesus, na morte, Deus estava tomando a iniciativa de estabelecer um novo pacto ou ‘aliança’ com o seu povo, na qual uma das maiores promessas seria o perdão dos pecadores”.

· O Getsêmani (Mt. 26.36-46): Cristo, angustiado, orava por causa do sofrimento que logo padeceria. A angústia sentida por Jesus não era um simples pavor dos sofrimentos e da morte, mas ao cálice da ira de Deus, uma figura do A.T. para se referir ao cálice amargo que os pecadores bebem (Jó 21.20; Ez. 23.32-34; cf. Ap. 14.10). Jesus angustiava-se porque já sentia lampejos da ira do Todo-Poderoso, próxima de se consumar sobre sua vida substitutivamente.

· Calvário (Mt. 27.32-56). Surrado, despido, zombado e crucificado entre dois malfeitores, gritou o Filho de Deus: “Elí, Elí, lama sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt. 27.46). Jesus se dirigia a Deus, evidenciando sobre si o cumprimento do Salmo 22.1. Este grito de desamparo de Jesus não foi apenas uma questão de sentimento, mas um fato. Ele tomara sobre si os pecados dos eleitos e, como substituto voluntário, sofria a punição do abandono de Deus. “Deus estava em Cristo reconciliando o mundo, não lhes imputando os seus pecados […]” (2Co. 5.19). Cristo tornou-se nosso substituto perante Deus e recebeu o castigo que nós merecíamos, a separação de Deus. Neste sentido é possível dizer que na Cruz Jesus sofreu a angústia que sofreríamos no inferno, caso não tivéssemos o salvador. É justamente isso que a Declaração de Fé de Savoy, confessa: “suportou o castigo estabelecido a nós, aquilo que nós deveríamos ter suportado e sofrido, sendo feito ele pecado e maldição em nosso lugar; ele suportou diretamente em sua alma os mais severos tormentos da parte de Deus, em seu corpo os mais dolorosos sofrimentos” (Cap.8, seç. 4).

2) Jesus como salvador da ira. Uma vez que a justiça de Deus está completamente satisfeita, Ele pode perfeitamente salvar o pecador sem ser injusto. Deus só poderia justificar o pecador e continuar sendo justo se propiciasse sua ira, e isso Ele fez mediante o sangue de Jesus Cristo, sendo justo e justificador de quem crer (Rm. 3.25,26). Depois de mencionar a paz que desfrutamos com Deus depois de justificados pela fé em Cristo, Paulo disse: “Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm. 5.9). A ira a que Paulo se refere é aquela que os gentios impenitentes sofrem (Rm. 1.18ss),– embora aguardem sua manifestação total e vindoura, e que os judeus soberbos acumulam para si (Rm. 2.5). Escrevendo aos Tessalonicenses, Paulo pôde falar sobre “Jesus, que nos livra da ira futura” (1.10). Esta é a manifestação final da ira de Deus, da qual Jesus é o único que pode livrar. São livres desta ira aqueles que podem chamar Deus de Pai, que estão no Senhor Jesus Cristo (v. 1), são seus imitadores (v. 6), que se converteram a Deus e aguardam a vinda de seu Filho (v. 10).

b) A quem foi oferecida a propiciação? A propiciação é uma ação dirigida à pessoa ofendida com vistas a mudar sua atitude para com o ofensor. Nós ofendemos a Deus com o nosso pecado, Deus está irado, mas a propiciação providenciada por ele mesmo, remove o seu desprazer e torna-o propício ao seu povo. A propiciação foi oferecida por Cristo a Deus, já que foi ele a pessoa ofendida pelos nossos pecados (Hb. 9.11-14).

CONCLUSÃO

A propiciação é a essência do Evangelho, com a qual percebemos que Deus não é um “pai bonachão” que dá um jeitinho brasileiro para resolver os pecados de seus filhos. A propiciação destaca os atributos de Deus: santidade, justiça e amor, manifestos claramente na sua obra salvadora. Aplicamos às nossas vidas, quatro questões importantes relacionadas a esta doutrina:

· O Amor de Deus por nós é uma realidade confortadora manifestada na propiciação. “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (I Jo. 4.10; cf. 2.2). Foi na cruz que a ira e o amor de Deus se manifestaram. Em meio à manifestação da ira de Deus no calvário, estava também a mais bela expressão do seu amor, pois a condenação dos crentes, Cristo levara sobre si (Rm. 5.8). Calvino disse que Deus “de um modo divino e maravilhoso nos amou mesmo quando nos odiava”.

· Devemos estar convictos de que Cristo realmente é o nosso salvador, pois se rejeitarmos sua obra propiciadora realizada na cruz, nós mesmos enfrentaremos a ira de Deus por nossos pecados. Enfim, ninguém escapa da ira do Senhor: uns sofrem-na pessoalmente, outros vicariamente, mediante a propiciação feita por Jesus.

· Crer no Evangelho torna-nos responsáveis diante de Deus pela missão de divulgar a todas as pessoas essa mensagem da propiciação, a saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo (2Co. 5.19).

· Não podemos permanecer nos nossos pecados, pois eles são uma grande ofensa a Deus, tanto que foram motivo suficiente para levar o seu único Filho à cruz.

*Lição publicada na revista para a Escola Dominical A Doutrina da Slavação, editada pela Aliança Congregacional.

2 comentários:

Anônimo disse...

MEU IRMÃO, ESSE ESTUDO ME AJUDOU A COMPREENDER MUITAS COISAS NESSE DIA, ATÉ TINHA OUTROS SUBSÍDIOS, MAIS ESSE FOI FUNDAMENTAL PARA A MINHA COMPREENSÃO, DEUS SIGA TE ABENÇOANDO!

Anônimo disse...

PRESENTE DE DEUS ESSE ESTUDO PARA MIM, MUITO APRENDI SOBRE ESSE TEMA, DEUS SIGA TE ABENÇOANDO!

NÃO PARE AQUI VÁ PARA OS TEXTOS MAIS ANTIGOS.