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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O QUE É A ALMA E O ESPIRITO SEGUNDO O ANTIGO TESTAMENTO?


O Antigo Testamento (A.T.). O AT nos informa que o homem é um ser criado e “criado à imagem de Deus” (Gn. 1:27; 2:7). Este tema da imagem de Deus no homem já foi muito discutido durante a história da Teologia e da Filosofia. O que é precisamente esta imagem de Deus no ser humano? Talvez um texto escrito por Ralph L. Smith nos esclareça.


A principal função da imagem no mundo antigo parece ser de habitação do espírito ou fluído do deus. “Esse fluído não era imaterial, mas via de regra imaginado como uma substância fina, rarefeita e intangível, que podia entrar na matéria crua comum, razão pela qual com freqüência é descrita como ‘respiração, sopro’ ou ‘fogo’. As imagens dos deuses eram de dois tipos: ou as esculpidas, ou as pessoas vivas, geralmente um rei”. O Antigo Testamento nega com veemência que qualquer espírito ou sopro de Deus residisse em ídolos esculpidos (Jr. 10:14; 51: 17; Hc. 2:19, mas afirma que o ser humano foi criado à imagem de Deus e que o sopro de Deus está nele.[1]


Podemos entender então, que o ser humano é a imagem de Deus porque o “espírito”, o “sopro” de Deus está nele, fazendo-o assim diferente das criaturas, e representante do seu Criador na terra. Smith cita D. A. J. Clines que diz:


O ser humano não é criado na (be essentiae), já que Deus não tem uma imagem de si mesmo, mas como a imagem de Deus, ou melhor, para ser a imagem de Deus, isto é, para servir de representante no mundo do Deus transcendente que permanece fora da ordem do mundo... O termo “semelhança”, por sua vez, é uma confirmação de que o ser humano é um representante adequado e fiel de Deus na terra.[2]


Calvino, já no séc. XVI, também entendia assim. Observe as palavras do grande teólogo da Reforma:


Antes de tudo, sabemos que os hebreus têm por costume repetir uma mesma coisa usando diversas palavras. E pelo que respeita a realidade mesma, não há dúvida de que o homem é chamado imagem de Deus por ser semelhante a Ele... Porque quando Deus determinou criar o homem à sua imagem, como esta palavra era algo obscura, explicou-a em seguida pelo termo de semelhança; como se dissesse que fazia o homem, no qual se representaria a si mesmo, como em uma imagem, pelas notas de semelhança que imprimiria nele.[3]


Assim, o ser humano sendo representante de Deus entre suas criaturas se lhe chama de imagem e semelhança do seu Criador.[4]


a.1) O AT usa alguns termos para descrever a constituição humana. Estudando este tema, o Dr. Merval Rosa nos dá alguns esclarecimentos sobre as palavras hebraicas usadas. Baseio-me nele para boa parte do que segue.


± Basar (carne)- Aparece 373 vezes no AT. Rosa observa que em grande número dos casos em que a palavra aparece a referência é a animais, o que parece sugerir que sua significação fundamental é, de fato, a parte física e material do homem, naquilo que ele tem em comum com todos os outros animais.[5]


± Nephesh (alma)- Aparece 755 vezes no AT, e também pode significar vida. Tem como significado primordial, garganta, pescoço ou canal de respiração. É uma palavra difícil de definir, pois sua gama de significados é ampla. [6] Nephesh pode ser:


a) Principio vital- O que faz com que o ser humano fique vivo, e é neste sentido que ela é empregada em Gn. 1:21-24; 35: 18; 1Rs. 17:21-22; 19: 10; Is. 10:18.


b) Vida psíquica- Neste sentido o termo tem abrangência, por exemplo: pode ser tido como o aspecto volitivo (relativo a vontade) da consciência humana; ou o aspecto intelectual; ou emocional e afetivo. Observe:


1- Volição (vontade): 2Sm. 5:8; Is. 1:14; Nm. 21:5;

2- Intelecto: Et. 4:13; Pv. 2:10;

3- Emoção: Nm. 21:5; Dt. 28: 65.

c) A própria pessoa humana: Gn. 12: 5; Lv. 11: 43; Ez. 18 4.


± Rúach (espírito)- Aparece 389 vezes no AT e é traduzida por espírito, fôlego, vento. Rosa escreve sobre o termo:


Esta palavra ocorre muitas vezes com referência ao vento, quer no sentido natural, que no sentido figurado. Em muitos casos, a palavra ruach é usada para se referir a qualquer influência sobrenatural atuando sobre o homem e, em casos raros, até mesmo sobre objetos inanimados. Encontramos também o uso de ruach com significação de princípio vital, neste caso o termo é sinônimo de nephesh. Finalmente, o termo ruach é usado para indicar elementos resultantes da atividade psíquica do homem.[7]


Observe os empregos de ruach como:

1- Vento: Ex. 10:13; 15:10; Ez. 37:9.

2- Principio vital: Jó 9:18; 19:17; Ez. 39:6-14; Jr. 10:14.

E completando a análise deste termo, Smith escreve:


Apesar do fato de o espírito humano ser uma dádiva de Deus e de o individuo jamais poder controlá-lo completamente, ele é próprio da pessoa (Sl. 51:10; 146: 4; Ez. 3:14; 11:5; 20:32). A pessoa podia falar da energia vital que tem dentro de si como meu rûach e atribuir-lhe “uma deterioração visível do estado físico ou psíquico” pessoal. O espírito humano pode diminuir (Is. 61: 3; Ez. 21: 7), enfraquecer (Sl. 77:3; 142:3; 143:4) ou desaparecer (Sl. 143:7). Ele pode ficar perturbado (Dn 2:3), desanimado (Jó 6:4; 7:11; Pv. 15: ,13), irado (Jó 15:13; Pv. 29:11; Ec.10:4), repousar (Zc. 6:8), tornar-se ciumento (Nm. 5:14, 30), endurecido (Dt. 2:30), ou animado (Ag. 1:14). Algumas qualidades físicas de rûach podem ser vistas em suas relações com as emoções. O espírito às vezes é associado a poderes mentais e pode ser traduzido por “mente” (Ex. 28:3; 1Cr. 28:12; Sl. 77:6; Is. 29:24; Ez. 11:5; 20: 32...). Assim, o “espírito” que começou como “vento” e s etornou “sopro” e “vitalidade”, também representa o aspecto interior, invisível e mais elevado da natureza humana.[8]


± Leb (coração)- Aparece 598 vezes no AT, e em alguns casos esta palavra é usada como personalidade (Ex. 9:14; 1Sm. 16:7; Gn. 20:5). Pode indicar também estados emocionais (1Sm. 25:36; Jz. 18:20); alegria ou tristeza (1Sm. 1:18), ansiedade (1Sm. 4:13), coragem e medo (2Sm. 14:1), amor, atenção, reflexão, memória, compreensão (Ex. 7:23; Dt. 4:9; 7:17; 1Rs. 3:9), habilidades técnicas, vontade ou propósito (Ex. 28:13; 1Sm. 2:35).[9]


Pois bem, pelo que vimos o AT não tem uma apresentação clara da constituição do ser humano, pois as palavras usadas (basar, nephesh, leb, ruach), podem ser empregadas, às vezes, quase como sinônimas. Portanto, devemos ter muito cuidado com o contexto para interpretá-las corretamente.



NOTAS:

[1] Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2001), p. 231.

[2] Ibid, p. 234

[3] Institutas, I.5.3. Vd. Também WESTERMAN, Claus. Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Paulinas, 1987),pp. 83-84.

[4] Detalhes sobre o assunto em GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2000), pp. 364-65; SANTISO, Maria Teresa P. A Mulher Espaço de Salvação (São Paulo: Paulinas, 1993), p. 219.

[5] Antropologia Filosófica; Uma Perspectiva Cristã (Rio de Janeiro: JUERP, 1996), p. 179.

[6] SMITH, Ralph. Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2001), p. 256

[7] Ibid., p. 180-181(Grifo meu).

[8] Op. Cit., p. 256.

[9] Detalhes em ROSA, Merval. pp.179-181; SMITH, Ralph L. pp. 254-261.

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