Um dia aconteceu um encontro entre Jesus e um homem religioso chamado Nicodemos, a Bíblia descreve este encontro assim:
“Havia um fariseu chamado Nicodemos, uma autoridade entre os judeus. Ele veio a Jesus, à noite, e disse: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele”. Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. Perguntou Nicodemos: “Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!” Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito“ ” (Jo. 3:1-6, NVI).
A doutrina da Regeneração ou Novo Nascimento é central no cristianismo, só que mesmo esta doutrina tendo tanta importância, poucos estão capacitados para discorrer sobre a mesma com base bíblica. Muitos sabem dizer que o ser humano precisa nascer de novo, ser regenerado, mas provar isto biblicamente e explicar o porquê é mais difícil. Outros têm confundido o Novo Nascimento com a santificação (um ato com um processo), e quando perguntados sobre o assunto dizem que o Nascer de Novo é o ser humano passar servir a Deus, mudar o comportamento, deixar os pecados, transformar o comportamento, etc. E aí terminam confundindo uma obra exclusiva de Deus com algo que tem a participação humana, nada mais longe da verdade.
1. POR QUE TEMOS QUE NASCER DE NOVO?
Muitas pessoas com justiça fazem a pergunta: “Por que nascer de novo?” Bem, para responder a mesma temos que começar olhando a condição do ser humano natural diante de Deus. O que somos nós, seres humanos descendentes de Adão e Eva?
As Escrituras têm algumas definições para o ser humano terreno (natural).
Ø Ele é um ser carnal (Jo. 3:6);
Ø Ele é um ser escravo (Jo. 8:34);
Ø Ele é um ser separado de Deus (Is.59: 1-2);
Ø Ele é um ser cego (2Co. 4: 4-6 );
Ø Ele é um ser carente da glória de Deus (Rm. 3:23);
Ø Ele é um ser morto espiritualmente (Ez. 18: 4; Mt.8: 18-22; Ef. 2: 1-6; Cl. 2: 13).
Este é o testemunho das Escrituras sobre o ser humano descendente de Adão e Eva aqui na terra. O fato da Queda no pecado acontecida no Éden (Gn. 3) teve um alcance muito extenso, pois, pelo pecado do primeiro casal a humanidade que viria depois sofreu as conseqüências. Observe:
Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram; pois antes de ser dada a Lei, o pecado já estava no mundo. Mas o pecado não é levado em conta quando não existe lei. Todavia, a morte reinou desde o tempo de Adão até o de Moisés, mesmo sobre aqueles que não cometeram pecado semelhante à transgressão de Adão, o qual era um tipo daquele que haveria de vir. Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores,assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos (Rm. 5:12-14, 19, NVI, destaques meus).
O Senhor Deus havia dado uma ordem ao casal para não comer da árvore da vida, só que esta ordem de nada adiantou. “A cobiça (desejo) da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação da vida”, que são os três fatores sempre usados por toda a história para levar os seres humanos a errar (1Jo. 2:16), foram mais fortes. E a mulher, quando viu que:
...a árvore era boa para se comer (desejo da carne), agradável aos olhos (desejo dos olhos) e árvore desejável para dar entendimento (ostentação da vida) tomou-lhe, e deu também ao marido (que estava com ela segundo o original hebraico), e ele comeu (Gn. 3:6, parêntesis meus).
Este foi o fracasso total da raça humana, o primeiro pecado. Aqui vários relacionamentos foram rompidos, várias coisas foram desligadas, desajustadas de seu estado original como Deus havia criado. O Diabo, tentador, cumpriu o seu propósito, pois a serpente na tentação era símbolo do Diabo (Ap. 20: 2), ele embaralhou, separou e misturou tudo.[1] Observe os resultados do pecado nos seguintes aspectos:
Ø Psicológico (Gn 3:7)- Romperam-se os relacionamentos psicológicos, ou seja, do ser humano consigo mesmo. Diz-nos o relato que apareceu a vergonha. Segundo o velho e bom Aurélio, vergonha é: “sentimento de insegurança provocado pelo medo do ridículo”. É quando a pessoa fica insegura, não estando mais a vontade consigo, acha que tem algo errado
Ø Social (Gn. 3: 12-16)- Começou a haver discórdia entre o homem e a mulher. Ele joga a culpa pelo erro nela, naquela que antes era ele mesmo, pois ele havia dito: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada”. (Gn. 2: 23, grifo meu). Agora ela não é mais sua carne, é um corpo estranho que o levou a errar e merece culpa.
Ø Ambiental (Gn. 3:17-19)- Deus planejou para Adão que ele fosse jardineiro ... é verdade! Por isso plantou um jardim e o colocou lá como o seu jardineiro cuidando do mesmo (Gn. 2:8), e neste jardim tudo era bom (Gn. 2:9). Mas o ato do primeiro casal descontrolou esta harmonia, e a terra passa a produzir o que é mau. O trabalho de jardinagem que a principio era prazeroso, torna-se agora penoso, e fruto de muito suor. O apóstolo Paulo diz que só quando os filhos de Deus aparecerem na glória final, haverá a restauração ambiental do planeta que até agora está sujeito a escravidão (Rm. 8: 19-22). Eis a razão dos desastres ambientais e naturais, a terra foi afeada como o ser humano pelo primeiro pecado, tudo ficou desajustado, e só com a volta de Cristo haverá também uma restauração ecológica, tudo voltará a harmonia e entrará nos eixos.
Ø Espiritual (Gn. 3: 8-10, 22-24)- Este foi o maior estrago que a desobediência do primeiro casal causou: o rompimento do relacionamento do ser humano com Deus. O casal agora se esconde de Deus, e Deus os expulsa do jardim, estava decretada a separação. A vida espiritual foi perdida, pois Deus afirmara que no dia em que eles comecem deste fruto, nesse dia morreriam (Gn. 2:16-17). E a separação de Deus foi sua morte espiritual.
Conclusão: se “todos pecaram” (Rm. 3:23), e se a conseqüência primária do pecado é a morte espiritual e a separação de Deus, então todos estão separados de Deus e naturalmente, todos estão mortos, essa é a condição do ser humano natural atualmente.
Mas, e o que fazer nessa condição? Cristo responde a esta pergunta na sua conversa com Nicodemos. Cristo afirma: “ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo” (Jo. 3:3, grifo meu).
NOTA
[1]“Se derivarmos a palavra “diábolos” de diabállein, que significa “embaralhar”, então é o demônio aquele que procura baralhar tudo.”FEINER, Johannes e LOEHER, Magnus (eds), Mysterium Salutis, II/4, 2ª ed. (Petrópolis: Vozes, 1984), p. 55. Derivando a palavra diábollos do verbo diaballô, em sua etimologia estaria os significados de: desajuntar, desunir. RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento (São Paulo: Paulus, 2003), p. 122.
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